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terça-feira, maio 07, 2024

O BOBO

 



    Meu avô já foi tudo na vida, até conferente de frigorífico ele foi. Fico feliz com isso, mas gosto mais dele contando histórias. Só minha avó conta melhor. Quando duvido de alguma, corro para ela e pergunto, mas ela só ri, e não responde. Acho que é de orgulho que ri. Eu até acredito em suas histórias porque ele é generoso, fala com todo mundo, tem tempo para as crianças e está sempre disposto a ajudar e quando não pode, se desculpa. Muitos o acham meio bobo, mas é assim que se julga as pessoas bondosas. Minha avó me contou que ele quase morreu na geladeira do frigorífico, uma vez. — Foi assim: — começou a contar — seu avô trabalhou até tarde, naquele dia, porque precisava conferir as carnes que haviam chegado. A geladeira, nesses casos, precisa ficar com a porta aberta, até porque, não há como abri-la por dentro. Infelizmente, por um descuido, a porta soltou e fechou. Ele sabia que ninguém mais havia por ali, para salvá-lo e o vigia, que ficava do outro lado do prédio, não tinha porque olhar na geladeira. O frio era grande e em pouco tempo a morte viria. Seu avô estava sentado num canto esperando a morte chegar quando, sem razão nenhuma, a porta abriu. Era o vigia. Seu avô chorou abraçado a ele. — O que você está fazendo aqui? — perguntou ele ao vigia — e o vigia respondeu: — o senhor é o único que me cumprimenta quando chega e nunca vai embora sem se despedir. Hoje de manhã o senhor me cumprimentou e como todos foram embora e o senhor não veio me dar boa noite, foi que percebi que alguma coisa havia acontecido e fui atrás do senhor. É isso — concluiu.
Beijei minha avó e saí correndo atrás do “bobo” do meu avô.

sexta-feira, maio 03, 2024

O AMOR DO MEU PAI.

 



   Minha mãe ficou uma arara quando a luz acabou. Meu pai, que não assiste novela, estava de boa. Sentou ao meu lado, na soleira da porta, onde ele sabe que morro de rir com as bobagens que conta. Ficamos um momento sem dizer nada até que, sem eu esperar, me falou uma coisa que, jamais esquecerei. Falou da mulher que fez dele o homem que é. O nome não me era estranho. Talvez o tivesse lido em um blog ou revista. Mas essa, essa era mais poderosa. A ela meu pai confiava as senhas do banco, das redes sociais e do seu celular e como me fez entender, confiava a vida. Eu ouvia estarrecida aquele relato. A luz da vela, que mamãe acendeu, não me deixava ver como estavam seus olhos, não sei se molhados ou não. Meu pai devia amar muito aquela mulher ou não confiaria as senhas do banco e das redes sociais. Até do celular ela tinha.  Antes que eu perguntasse como tudo acabou, ele disse que foram passar um fim de semana a beira de uma represa onde todos remavam a luz do luar. Não foi por sua vontade que levaram o barco para além dos demais onde tudo acabou. O barco virou e meu pai, preocupado em salvá-la, afogou-se com ela. Não adianta saber nadar se não entende de salvação, e meu pai não entendia. Precisa técnica, coisa que ele não tinha. Massagens, beijo na boca, tapas no rosto e, finalmente, água e mais água foram expelidas sob aplauso dos que assistiam. Um dia hospitalizados. Era o que ele pensava, mas não, pois, só ele escapara. Foram anos de sofrimento até o aparecimento de minha mãe. Seria ela a nova Buluda? — eu me pergunto. — Será que enxerga na minha mãe a imagem daquela mulher? Aquela que, segundo me disse, seria motivo da sua existência? Se for ou se não for, para mim tanto faz, pois, se está bem conosco, não importa o passado que teve. Que bom, meu pai, que o senhor tenha vivido essas coisas para hoje, feliz como demonstra que é, possa contar para a filha que o senhor vive dizendo que ama, como me diz amar minha mãe… ou seria a Buluda?

segunda-feira, abril 29, 2024

A CASA DO MEU AVÔ

 

     


Minha avó se chama Maria e Tatão é como vovô João é chamado. – Maria, vamos deitar que já tá tarde, disse enxugando a cara na toalha da mesa. Maria corre passar água nos pés. – Estou te esperando na cama, Maria, diz ele envergonhado com o que acabara de dizer. Mas vovó não diz nada. Tira a toalha do prego de trás da porta e enxuga dedo por dedo até não ter dedo mais para enxugar. – Anda logo, Maria, que o sono já quer me pegar, grita Tatão lá de dentro. Maria, que antes não falou  nada, se cala. Não por não ter o que responder, mas por não ouvir tão bem como antes, quando Tatão arrastava asas para namorar com ela. Dedo enxugado, cada um com cuidado. Agora a hora é chegada. Maria se levanta, joga a água pela janela. Pendura a bacia no prego ao lado do prego da toalha, tira a dentadura de baixo e põe no copo ao lado do copo em que Tatão pôs a dele. A parte de baixo é dela, já não tem tantos dentes quanto os que tinha antes, mas que são seus e não de ninguém. — Por que você tira os dentes quando vai se deitar, Maria, tem medo que possa me morder enquanto durmo
?,
diz ele com a boca cheia de vento. Já é tarde. O sono já vem me pegar, diz o relógio na parede com os o mesmos barulho dos velhos relógios. — Pronto, Tatão, já fiz o que você gosta que eu faça quando venho dormir. Lavei os pés, como você falou, tirei o pano que boto na cabeça para os fios não caírem na comida, lavei a chapa que botei no copo do lado do seu e agora, se você ainda me quiser, você pode me usar que não ligo. Tatão, você ta me escutando?, diz cutucando o marido que ronca virado para o canto.
Ele dorme igual um cevado, coitado.
Diz riscando na testa o sinal da cruz. Depois ela ri, mas não dele que é seu amigo e companheiro desde pequeno, mas dela, da mulher que faz tudo o que pedem e até se lavar quando não é dia de missa ela se lava e para quê se ela não tem festa para ir? Para ir para o quarto é que não é. No quarto só se vai quando é para dormir. Para contar carneiros até que o sono ou a morte lhe feche os olhos e parta para longe, bem longe dali e de gente.
— Boa noite, vovó. Vá dormir porque ele já foi e se a senhora se apressar ainda vai encontrá-lo catando flores pelo caminho para dar para a senhora.

sexta-feira, abril 26, 2024

TERMINAL GENTILEZA

 


        Muitas histórias meu pai me contou quando criança. Eu permanecia por horas, sentada, com os cotovelos no joelho, segurando o queixo, para ouvir, encantada, as histórias que me contava, mas hoje, com as obrigações diárias, não é mais a mesma pessoa. De todas as que ele contava, eu me lembro, principalmente daquelas em que eu acreditava, como ouvi-lo falar que na infância tivesse sido amigo de meninos que se destacariam na política. Mas, como assim, se ele nunca me levou a um comício ou fui apresentada a qualquer dessas figuras? Definitivamente, meu pai já não é mais o mesmo. Há muito perdeu a capa e o poder de voar, não que meu pai se tornasse mais um mentiroso, mas num belo contador de história, sim, eu acredito. Ontem, após muito pedir, ele concordou em me levar à inauguração do Terminal Gentileza, aqui, em nossa cidade. Ao chegar, um homem grandão, vestido de preto, nos barrou a entrada. Meu pai me puxou para trás, falou qualquer coisa que o homem transmitiu por um fone, preso à lapela, liberando-nos em seguida. Não perguntei, mas deve ter falado com alguém que veio de braços abertos ao encontro da gente. Abraçou meu pai e me olhando de cima a baixo, perguntou se eu era a Rô. Tomou minha mão e, com o meu pai atrás da gente, nos levou à mesa de uma bonita mulher que disse chamar-se Cristine. — “Muito prazer, eu sou Cristine, a mulher do prefeito”.
Gente, ele conhece o prefeito! Que orgulho eu senti desse cara, simples, educado e já não mentiroso como eu vinha pensando. Durante a conversa, meu pai deu uma aula de conhecimentos, falando principalmente de José Datrino, homenageado com um terminal em seu nome. Meu pai falou do incêndio do circo e de José ter criado um jardim muito bonito onde antes era cinza para receber e amparar os sobreviventes que precisassem de ajuda. A eles dava conselhos num clima de paz e bondade. A partir daquele momento, José Datrino passou a ser chamado de "Profeta".
Eu gostei muito da festa. Foi linda. Sinto vergonha de não ter acreditado quando um dia me disse ser amigo de pessoas tão importantes, na juventude. Só não retiro a admiração que eu tenho dele hoje, como tinha quando ele era jovem e eu ainda criança.

terça-feira, abril 23, 2024

CORO DE QUÊ?

 


      Não sei que horas são, mas sei que cedo não é, ou não ouviria o som que estou ouvindo, o mesmo que ouço nas madrugadas. Ontem, na hora em que fui me deitar, essa orquestra fazia esse som e o som lembra alguma coisa, tipo, uns vinte violinos tocando, baixinho, para não me acordar. Talvez não fossem violinos, mas flautas ou seriam crianças cantando embaixo da minha cama? Não, não são crianças, mas o que é, eu não sei. O que sei, na verdade, é que o som é bonito, suave, agradável de se ouvir, mas é triste. As religiosas garantem serem anjos rezando. Já os biólogos, negam, dizem serem formigas trabalhadeiras, daquelas que trabalham de dia, mas é na calada da noite que trabalham melhor — afirmam. — Não importa quem compôs essa música e muito menos a letra, que eu não entendo. O que sei é do sono que essa coisa me dá e por falar nisso preciso dormir. É tarde e eu tenho prova amanhã bem cedo e mesmo que eu me sinta preparada não quero abusar. Preciso gabaritar. Gabarito, ou não me chamo Jurema. Aliás, quem se chama Jurema que eu não conheço? Fica frio, vou gabaritar para ninguém errar o meu nome. (Jurema, que nome esquisito!) Então, tá. Tchau!!! Ah, não precisa me desejar boa sorte, não precisa. Estudei até agora para isso, não depender de ninguém. Fui!!!!

sexta-feira, abril 19, 2024

A MINHA PRIMEIRA VEZ.

 


    Meu cabelo não é complicado, mas fácil também sei que não é. Mas a gente se entende. Ontem, ouvindo minha mãe, eu fui ao cabeleireiro que ela frequenta. Para mim, tudo ali era novo, até porque, nunca fui a nenhum. Do papo que rolava nada me interessou, mas a agilidade com que aparavam pontas com a navalha, isso, sim, me tirava o fôlego. Nem o calor do secador me chamou mais a atenção quanto a navalha nas mãos das garotas. Mas, tudo bem. Faz parte. O que não faz parte é a dona do salão, uma linda mulher, encostando a barriga em mim. Antes, era o braço, que eu recolhi. Falo barriga porque sou educada, mas olha! Com ela esfregando, aquilo, em mim, mais parecia “senegalês” que mulher, propriamente dito. Sabe aqueles “negões”, vestidos de sunga? Era a mulher andando em volta de mim. Cheguei a pensar em travesti, mas não era. Travesti não gosta de mulher, pelo que me disseram. E aquela mulher, tão bonita e tão feminina, dando em cima de mim. Logo eu, uma criança, quer dizer, mais ou menos. kkkkkk
O cabelo ficou show, mas naquele salão eu não volto e se minha mãe perguntar invento qualquer coisa e pronto, “saio batido”.
Será que tem lei que proíbe esse tipo de coisa? Senão acho que deveria.

terça-feira, abril 16, 2024

DESCANSE EM PAZ

 


Fazia meses que o irmão da minha mãe havia morrido e da viúva nunca mais se teve notícias. Minha mãe estava preocupada já que se viam constantemente. Um dia mamãe me pediu que fosse a sua casa, saber como iam às coisas. E eu fui. Chamei uma amiga, mas como não pode, decidi ir sozinha. Toquei a campainha várias vezes e como ninguém respondeu, saltei o muro e, se precisasse, saltava até à janela, mas felizmente não precisou. Do ponto onde eu estava já dava para perceber que ela ia bem, quer dizer, estava ótima. Muito melhor do que mamãe, eu e todo mundo pudesse imaginar. Felizmente minha amiga não me acompanhou. Não teve o desprazer de ver o amigo do meu tio, um sujeito que a gente conhecia e respeitava, colocar na mão da mulher dele uma coisa que nem meu tio ou qualquer homem tivesse daquele tamanho. Quantas vezes vi o mesmo sujeito almoçando na casa deles, várias. Eu sei que titio morreu, mas a mulher não. Muito menos o amigo que, só perdeu o parceiro, menos o apetite. Há três meses meu tio come terra enquanto a mulher come outro tipo de comida dada pelo amigo. Eu não faço ideia de quanto tempo esses dois vêm se divertindo sem meu tio saber. E mamãe preocupada com a sem vergonha! Duvido que titio fizesse com ela o que o amigo está fazendo, duvido! Se tivesse me contado, eu não acreditava, mas ninguém me contou, eu vi! Acho que minha tia jamais saberá que estive na casa dela naquele dia. Não por eu ser boazinha porque, boazinha eu não sou. Para minha mãe falo qualquer coisa, pelo menos assim deixa de encher o meu saco. Pena que o amigo do meu tio não matasse a vagabunda com aquela coisa grandona. No princípio deve ter sofrido bastante, mas acabou se acostumando. Não aguento ver minha mamãe triste por causa dela.

sexta-feira, abril 12, 2024

MALDITA GREVE!

 



     Fiquei meia hora esperando um ônibus que me levasse de volta a casa, o mesmo que me trouxe para estudar na casa de uma amiga. Não só ele, como táxi, carro de aplicativo, nada passava enquanto eu esperava — “Estão em greve, menina. Arranje uma carona porque ônibus não vai ter não” — disse um velho montado na bicicleta. — Não tem problema, vou pedir para o meu pai vir me buscar — falei para quem, pedalando, já não me ouvia. Esqueci que tivessem ido ao cinema. Estava pensando em voltar a casa da amiga quando alguém buziou. Eu nem ia olhar, mas uma moça, com a cabeça do lado de fora da janela do carro, falou: — “Estamos indo para a Tijuca, quer carona?” — Tijuca era meu caminho, e como no carro só tinha mulher, aceitei. Ninguém falava nada que prestasse e até um cigarro, muito estranho, uma delas me ofereceu. — “Dá um trago aí, garota. Sei que você gosta” — disse sorrindo para mim. — Não, obrigada, eu não fumo. — Falei tirando aquela coisa da frente da minha cara. Todas, inclusive a motorista, fumavam no mesmo cigarro. De repente, sem eu esperar, o carro parou. A motorista me empurrou contra a porta e gritou. — “Dá a volta e senta no meu lugar, você vai dirigir!” — Mas eu nunca peguei num volante, não sei dirigir! Não sei e não quero!. — Falei. — “Dá a volta e entra no carro. Assuma o valente e faz tudo o que eu disser, entendeu?” — Tudo bem, se é assim, vamos tentar — e assim fiz. Com as instruções que foi dando consegui fazer o carro sair do lugar. No princípio deu uns pulinhos, mas depois acertou e começou a andar. Quando achei que já tinha aprendido a polícia, gesticulando, mandou-nos parar. — “É a blitz que o aplicativo falou.” — Disse a dona do carro ao meu lado. — “Seu documento e os documentos do carro, senhorita”. — Gente, eu sou menor, e o pior é que tenho cara de criança, por isso fomos parados — falei entre dentes. Felizmente a luz era fraca e guarda não percebeu. — “Por favor, os documentos do carro e o seu” — insistiu. — Esqueci os documentos na outra bolsa, seu guarda — menti. — “Desce do carro, você e os outros. O carro está apreendido” — o policial sacou um bloquinho e anotou qualquer coisa. — Tudo bem — respondi. Abri a porta e saí. Enquanto se explicavam com o guarda, tentei um carro de aplicativo que, por milagre, consegui embarcar e vazar para longe dali. Em meia hora eu estava em casa. — “Tudo bem com você, filha? Já estávamos preocupados.” — Está, sim, mamãe, é que o pai da minha amiga disse vir me trazer, nem liguei para a hora. Mas está tudo bem, sim. Menti mais uma vez.

segunda-feira, abril 08, 2024

SONHOS & PESADELOS

 



       

Eu não sei se sonhar muito faz mal. A mim, faz. Quem sonha muito já deveria se acostumar, mas eu não. Ontem à noite sonhei novamente. Tive um sonho tão esquisito que ao acordar nem bom dia dei
para
ninguém. Vazei para a casa da pessoa com quem eu sonhara e chorando atirei-me em seus braços. Eu não havia acordado direito, por isso, cheguei com os bofes saindo pela boca. Entrei sem falar com ninguém, só queria me desculpar pelas palavras que disse a minha amiga. Ninguém entendeu nada. Da porta, por onde rompi, tipo um furacão, a irmã e os pais, me olhavam com cara de bestas. Então expliquei. Enxuguei os olhos e falei. Falei e a turma caiu na risada. — “Desculpem, mas o motivo foi o sonho que levei tão a sério” — dirigindo-me a quem estava em meus braços: — “Sonhei que você havia ganhado um bilhão de reais e com tanto dinheiro só me deu um milhão de presente. Eu não sabia
que estava
sonhando, por isso fiquei tão zangada”.
Claro, se a pessoa que se diz minha amiga ganhou um bi e só me dá uma merreca daquela, você queria que eu ficasse como? Que ficasse de quatro lambendo seus sapatos? — “Que tipo de amiga tu pensas que sou, sua doida!” — Foi com o dedo na sua cara que no sonho eu falei. E não só isso como te mandei vazar da minha presença, pedi que não te deixassem entrar mais lá em casa. — “Só me dei conta que era pesadelo quando acordei.” — Falei olhando para os que me olhavam — e concluí — “Nem lavar a cara eu lavei. Botei essa camisa” — apontei a camisa do flamengo — “e corri a casa de vocês. Só agora, depois desse vexame, foi que a ficha caiu. Gente, eu fui vítima de um pesadelo! O maior e pior pesadelo que alguém já teve na vida. Desculpem
!!
!”
— Todos morrem de rir, mas de vergonha, só eu que morri. (Roubei essa imagem de um blogueiro muito querido)

sexta-feira, abril 05, 2024

LOLLAPALOOZA

 


    As garotas do meu colégio me chamaram para o Lollapalooza desse ano em São Paulo. Gostaria de ir, mas não vai dar. Não tenho coragem. Talvez mais por covardia, mesmo, pois, tais garotas gostam de se exibirem, já eu não. Sou mais reservada. Elas fumam, bebem e paqueram, escondidas dos pais, enquanto eu sou careta, não faço uma coisa e nem as outras, exceto caso eu já conheça o garoto. Para ficar com elas, por aqui, tudo bem, mas viajar… São Paulo não é para amadores, então, por que fumar maconha onde a polícia restringe à visita aos parentes e não também aos amigos? Se eu me conheço bem, não as deixaria sozinhas, em uma hora dessas. — “Já que estão presas, me prendam também. Se vim com elas, só volto com elas!” Desde que os nossos pais, coitados, paguem a fiança.
— “Digas com quem andas que te mostro o caminho”. Está na bíblia. Na bíblia que seguimos lá em casa.
Em Interlagos, acredito, que dependendo de quem as convides para um cigarrinho, essas malucas me deixem sozinha. Basta um barbudo dizer, “e aí, tá ligado?”, para segui-lo até onde outros iguais, sem motivo, riem criando bambolês de fumaça. É quando me deixarão em Sampa, sozinha. Não pensem que sou santa falando essas coisas, porque santa eu não sou. Santas são aquelas que saem com véu na cabeça e quando se cansam, voltam suadas a casa. Cansadas, sim, elas ficam, mas com a alma lavada, não com água e sabão, mas com a seiva do amor. Amor que deram e receberam em troca. Essas são Santas e se não são, deveriam.
Sobre a Lollapalooza, penso que assistirei comendo pipoca, na tranquilidade da minha casa, jogando caroços no pai apontando minha mãe.


segunda-feira, abril 01, 2024

MENTIRINHA BOBA.

                                                         
Meu pai tem um amigo que vive reclamando do filho. Um moleque de 8 anos que mente pelo prazer de mentir. — “Pai, seu amigo pediu para o senhor ir à casa dele”. O pobre coitado deixava de lado o que fazia e ia. — Não, não te chamei não. Isso é invenção do seu filho — disse meu pai. O pestinha já tinha mentido que o gato da casa havia morrido. Também já mentiu que tivesse tirado 10 em história e até atropelado, uma vez ele mentiu que o cachorro tivesse sido. O pai muitas vezes tentou assustá-lo: “Seu nariz vai ficar igual à tromba de um elefante, se continuar mentindo!”. Mas o menino não se emendava, ria da cara do pai: “O senhor é que é mentiroso, não existe ninguém que tenha mentido e ficado com nariz assim, desse jeito!”. O tio também conversava com ele — “No dia que você falar a verdade ninguém vai acreditar!” O menino ria quando lhe diziam essas coisas até acontecer o que o tio previra. A mãe, por ele insistir tanto, comprou uma rifa que continha como prêmio um belo par de patins. Brinquedo que ele sempre quis ter, mas os pais não podiam comprar. O problema é que ele foi sorteado e por sorte foi ele mesmo quem atendeu ao telefone. A ligação era para falar com o pai, mas o pai não quis atender. Achava que fosse mais uma das suas mentiras. — É verdade, papai, a moça quer falar com o senhor! — A ligação era para combinar a entrega do prêmio. — “É verdade, papai, acredite em mim!”. Mas o pai fingia não escutar. Ao invés de assistir ao jogo na televisão, o garoto pediu para atender o telefone e o pai, sem ter paciência, o ameaçou com umas boas palmadas. Resultado: Devido às mentiras o menino deixou de ganhar o brinquedo que tanto queria. Depois dessa perda passou a falar a verdade. Nem mesmo no dia da mentira o menino mentia. O tempo passou, as notas na escola ficaram melhores e até as de português, matéria que não ia tão bem, melhoraram. Até ganhou medalha na prova de redação, contando a história de um menino, muito levado, que deixou de ganhar os patins, que tanto queria, por não saber falar a verdade.