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quinta-feira, julho 25, 2024

QUANTO PIOR, PIOR.

 


Minha avó Maria é do tipo erudito. Aquele que usa o idioma de forma rebuscada, requintada, eu diria. O meu avô, ao contrário, não tem uma grande capacidade de compreender certos termos, com os quais a mulher o azucrina todos os dias, há décadas. Já meu avô é homem da roça. Lá ele nasceu, cresceu e casou-se. Minha avó também nasceu e cresceu por lá, mas ela estudou e foi com ela que meu avô aprendeu a ler e a escrever. Vovó deve ter sido rebelde na adolescência para casar-se aos 14 anos com um moleque de 16, com quem vive até hoje. Eu os chamaria de loucos, mas se deu certo, ta tudo certo. Quanto aos estudos, meu avô aprendeu pouco, mas vovó aprendeu mais. Até hoje ela fala engraçado. Vovô diz que não entende nada, mas para ela ele não fala. Faz com a cabeça que está entendendo, o que dá motivo para ela continuar falando. O engraçado são os termos que ela usa numa conversa. Um dia desses, ao chegar da escola, escutei minha mãe rindo com alguém lá na sala. Fui até onde estavam e dei com vovó conversando com minha mãe. Eu já devia saber que ninguém fica sem rir conversando com ela, mas infelizmente eu não sei. — O médico que atendeu o seu pai — disse vovó apontando para o marido sentado assistindo TV — nem parecia um "acartado" dizia. Doutor "acartado" não tem que olhar livros para “aviar” suas receitas, mas esse médico olhava. Peguei a receita e, ao tentar ler o que escrevera, o esculápio se levantou, de onde estava sentado, tirou o jaleco, que enfiou numa pasta de couro e saiu sem dizer o valor da consulta. Olhando o cartão na minha mão, a secretária pergunta: — Débito ou crédito? Acho que ele estava “aguçado” — falou à secretária, que respondeu com sorriso. Minha avó diz que não entendeu a letra dos médicos, mas não perguntou a ele se tinha entendido o que ela falou. Talvez entendesse porque ele estudou, enquanto o resto, nem tanto.

segunda-feira, julho 15, 2024

VERDADE QUE DÓI.

 



   Existe todo tipo de amigo. Os verdadeiros, sempre ao seu lado para aplaudir suas conquistas, os invejosos, tipo, aqueles que te olham com olhos estranhos quando você é promovida ou tem aumento de salário. Também tem aqueles, falsos, que te encontram numa festinha e vêm com o papo, aquele papo de sempre: — garota, há quanto tempo… tá sumida, hein! Vamos marcar para gente se ver!!! — simplesmente perda de tempo, bobagem. Não dou ouvido a pessoas assim, desse jeito.
Quem realmente gosta, procura, faz questão, tem interesse, não se apega ao acaso para saber de você, não espera surgir uma oportunidade para te elogiar, se tem tempo suficiente para te ligar, mandar uma mensagem, sem figurinha, saber de você. Se gosta da gente, como diz, por que não nos procura, cacete? Será que já não se lembra que estamos vivos ou estar vivo não é o suficiente para cuidarmos uns dos outros? Os laços, sejam lá quais forem, foram feitos pelo destino, como li não sei onde, e, como sabemos, só você os mantém frouxos ou não, aliás, não é só você que os mantém desse jeito. Sou eu, é você, e o outro. Eu sei que tem quem vai dizer: “pera aí! Se ficar te ligando, perguntando por você, tu não vai se estressar, não vai ficar cheia dessa pessoa chata que não larga um minuto do seu pé?” — Com certeza! Nesse mundo, por ser confuso, tem gente muito esquisita, e eu sou uma delas. Falo essas coisas quando, na verdade, adoro que me pequem no colo, que me lambam a cara, que perguntem como foi o meu dia, se quero sair e se tenho ideia do que fazer na sexta-feira à noitinha. É isso aí, gente. Essa sou eu, a Rô. Exatamente assim, desse jeito.

sexta-feira, julho 12, 2024

SE CONSELHO FOSSE BOM...

 



   Meu pai não costuma conversar sobre a vida de ninguém, mas ontem fugiu à regra ao mostrar para mamãe o convite de formatura de um sobrinho, que acabara de receber. Estava feliz pelo sobrinho e mais feliz ainda ao falar do zelador da firma em que trabalhavam. Disse que o rapaz era inteligente, educado e falava bem, apesar de ter o primeiro grau incompleto.  Um dos prazeres que papai falou que tinha era o tempo que passava conversando com ele. Pena que se achasse velho para estudar, porque, se estudasse, daria um ótimo professor ou coisa parecida. Foi o que teria respondido quando meu pai perguntou por que não fazia o supletivo? — "Em pouco tempo você termina o que, normalmente, leva anos — disse meu pai, e concluiu: — É triste, se achar velho aos 42 anos!
Semanas depois, papai foi transferido e nunca mais teve notícias desse rapaz, mas agora, apontando para um nome bem abaixo do meu primo, sorri feliz dizendo para mamãe: - "Olha, meu amor, ele conseguiu! Sim, meu amor, ele conseguiu. Eu acho que ouviu o meu conselho, olha o nome dele aqui, oh! Não é que o danado estudou e agora, aos 51 anos, está formado em direito, como o filho do meu irmão!” 
(Eu também fiquei feliz, por ele, meu pai, mas agora, ouvindo isso, eu tenho a obrigação de concluir os meus estudos para colocar na cara do senhor um sorriso igualzinho ao que o senhor tem enquanto mostra para minha mãe o nome de alguém que nem é da família).

sexta-feira, junho 28, 2024

CAMISA DE FORÇA

 


     Vi minha mãe rindo de coisas que não falei. Rindo do silêncio que ronda meu quarto e com quem converso sem dizer coisa nenhuma. Talvez julgasse a filha, que ela diz ter um pouco de sabedoria, e um pouco de louca, quem sabe. Estranhei porque não falo sozinha, então, porque ri se não faço tais coisas, quer dizer, não fazia, até descobrir que falar com as paredes de uma sala vazia e melhor que falar com quem não sabe o que responder. Hoje eu falo. Não com alguém conhecido, já que essa pessoa só existe na minha cabeça. Às vezes pergunto se, olhando pela janela, ela vê paredes ou consegue enxergar mais além? Responda, monossilabicamente, sugiro. — Você vê paredes ou consegue enxergar mais a frente? — Volto  perguntar. Basta responder a isso e também se está em casa, na sua casa, nesse momento? — E pergunto de novo: você está nessa casa, está sozinha? Responda dizendo sim ou dizendo não a cada pergunta, simplesmente isso, tipo: em casa, sozinha, enxerga além (caso estas sejam suas respostas). Então pedirei que vá à janela e olhe lá fora. Não precisa falar o que vê porque também não diria, caso eu estive em casa, sozinha, debruçada à janela que dá para além das paredes que só os olhos dessa garota não veem, assim como também não enxergam a pessoa que gostariam, mas não pode ser vista. Ora! Se responderia sem ninguém perguntar, não seria para expor a sanidade que me empertiga, mas, quem sabe, não justificasse o riso que lambe os lábios, pálidos, de minha mãe de pé junto a porta do meu quarto?
Além da janela, se alguém perguntasse, eu diria ver o passado veloz passando como um trem que some na curva, cruza com outro, para quem apita várias vezes, enquanto esse, de nome futuro, responde apitando da mesma maneira. Não sei quem apita e quem toca fogo nas duas caldeiras, mas sei que há passageiros nos vagões, em cada vagão. Só não sei quantos, e por que estão vindo, como não sei porque vão embora.

segunda-feira, junho 24, 2024

EU E A RODA.

 
         


Quando foi inaugurada a roda gigante do Rio, eu tinha 11 anos. A professora questionou a opinião de cada aluno sobre a possibilidade daquele passeio. Ouvindo o que ela dizia, eu pirei e, antes mesmo de falar com meu pai, eu já disse sim. Era o meu sonho ver a cidade de um ponto tão alto como aquele. O problema era o responsável. Minha mãe tem medo de altura, daí contar com ela eu não ia. Sobrou para meu pai que, segundo dizia, medo de nada ele tinha. O problema é que ele criava diversas desculpas, tipo, não dá para eu ir nesse dia. Só quando o chamei de medroso que ele cedeu. Quando era pequena, ele era um herói e, até mesmo para voar, dizia ter esse poder. Só assim decidiu ir comigo... Na véspera, nem dormir direito, eu dormi, tal a minha alegria. Mais feliz eu fiquei quando a roda começou a rodar. Alguns colegas da minha sala e as demais pessoas ali, comigo na cabine, começaram a gritar. Uns de total alegria, enquanto outros de medo ou nervosismo. Já o meu pai. Bem, o meu pai, eu não sei o que estava sentindo. Quando perguntei, ele disse que estava gostando, só um pouco ansioso por causa de mim. A roda seguia o percurso e, ao atingir o ponto mais alto, foi que vi o pôr do sol mais lindo da minha vida. Pena que o vento começasse a soprar. Para mim, tudo bem, não tinha problema. Era seguro e eu estava feliz. Já o meu pai, eu não sei por que, começou a gritar: — "Tirem a gente daqui, que minha filha está com medo! Tirem a gente daqui!" — Meu pai gritava e gesticulava. — Com aquilo, a roda voltou a girar e a gente desceu. Das oito pessoas que estavam ali, só eu e meu pai deixamos a cabine. Eu fiquei uma fera. Puta da vida com ele. — Pai, quem te falou que eu estava com medo se eu estava adorando? O senhor sabia que a gente tinha direito a mais duas voltas e praticamente não demos nenhuma? — Pior foi a sua resposta que ele me deu: — "Eu pedi que a roda parasse porque você estava com medo, só por isso eu falei e, se eu falei, é porque você estava com medo mesmo e ponto final!"

Foi horrível encarar os coleguinhas no dia seguinte. Falar que era meu pai que estava com medo, jamais falaria.

sexta-feira, junho 21, 2024

OLHO NO OLHO

 





      Espero não estar equivocada, afinal, se eu estiver eu desejo ser homem na próxima encarnação. Ser homem é legal. Um homem chega chegando, faz o que quer e ninguém fala nada. Se fizermos um terço do que eles fazem, podemos ser denominadas de piranhas, mulheres da vida ou coisa pior. No homem não pega nada. Nos olham com olhos de canibal e todo mundo acha bacana. Alguém faz ideia do que nós, mulheres, sentimos quando esses caras nos olham daquele jeito, tipo, eu vou te comer? Eu acho que ninguém faz ideia, mas nós, mulheres, fazemos. O pior é que o bicho que quer nos comer é da mesma espécie da gente. Eu não me lembro de ter falado com ninguém que me olhasse sem interesse.
Todo mundo quer, de certa maneira, me tocar com aquela mão cheia de dedos. Do mesmo jeito que querem tocar em você. É de você mesmo que estou falando. Você, que ficou vermelha com as minhas palavras. Em qualquer lugar que eu vá, eu me sinto em um
Todo mundo quer, de certa maneira, me tocar com aquela mão cheia de dedos. Do mesmo jeito que querem tocar em você. É de você mesmo que estou falando. Você, que ficou vermelha com as minhas palavras. Em qualquer lugar que eu vá, eu me sinto em um coxo. Lugar em que os tratadores põem a comida dos animais. Eu sempre sou assediada, mas não como assediam as outras mulheres. Isso porque ainda sou uma mocinha, uma pré-mulher ou adolescente. Tudo hoje em dia vai de mal a pior ou talvez nem tanto para os viciados e para as viciadas em sexo, de acordo com essa tal liberdade. Ninguém esconde mais seus interesses. É homem querendo homem e mulher querendo mulher. Graças a Deus que é assim. Chega de dormir no armário e acordar no hospício. É claro que um dia eu vá  querer que me queiram, mas sem a obrigação de gostar de quem eu não goste. Não vai rolar se eu for desejada por um homem casado, por um homem com o dobro da minha idade ou por alguém que se mostre maior do que é. Não quero voos longos se minhas asas são curtas.


segunda-feira, junho 17, 2024

AMOR DE QUALQUER JEITO.

 



      

Você tem 16 anos, praticamente a minha idade. Não pode saber muito sobre sexo, como eu também não sei, já que a gente continua com a sexualização em processo, como meu pai costuma dizer. Nossos hormônios - segundo ele - ainda estão definindo a sexualidade que teremos daqui a alguns anos. Por isso eu te digo que gostar de meninas é normal, pelo menos eu acho, mas menina de 16 anos gostar de menina de 9 é diferente, dá problema. Não tente se relacionar de maneira alguma com essa pivetinha, pois isso pode resultar em algo desagradável! A gente ainda é crianças, como o psicopedagogo da minha escola falou. Isso quer dizer que a nossa mente ainda não desenvolveu o processo todo da coisa. Pode ser que surjam problemas, tanto para você quanto para a garota que você gosta. O certo é você conversar com seus pais, se eles forem esclarecidos como os meus são, é claro. Eles vão te ouvir sem te julgar. Espero que eles sejam bastante evoluídos para tratar do assunto. Nesse caso não vão te ofender, nem a você e nem a ninguém. Você não me disse a religião que eles têm. Dependendo, eles podem achar que você está errada. Espero que haja diálogo entre vocês porque, se não houver, o melhor é você procurar um orientador. Na nossa escola tem dois. Ou em outro lugar. Esses caras são joias. Vão te ajudar a passar essa fase. Fase de descobrimento da sua sexualidade de maneira segura para que no futuro você possa curtir sua sexualidade. Ninguém precisa ter problema com a sexualidade para pedir ajuda a ninguém, mas se tem tudo bem. Procure. Eu, para ser sincera, continuo no processo. Sei que o remédio mais indicado é o tempo, os pais e os profissionais da matéria que, felizmente, as escolas têm para oferecer. Eu não tenho problemas, tenho dúvidas, mas, uma vez por semana, eu me abro para os caras da escola, no bom sentido, claro.

quarta-feira, junho 12, 2024

O MEU É AO NATURAL!

 



Dizem que eu não engordo de ruim. — “Pão engorda!”, escuto todo mundo dizer, mas não a mim que não vivo sem pelo menos um, nos cafés da manhã. Hábito herdado dos meus avós. Minha mãe não come e meu pai muito menos. — “Tem glúten!” — diz um. — “Também tem açúcar e sal”, — responde o outro. Nesse impasse todos comemos tapioca lá em casa. Tapiocas elaboradas, tipo queijo com banana, queijo com coco ralado e outras loucuras de quem não quer engordar. Infelizmente, para eles, meu primo, que é nutricionista, apareceu exatamente na hora do lanche. Ficou horrorizado quando mamãe disse que tapioca era o nosso principal alimento. Precisavam ver a cara que ela fez quando meu primo começou a falar. Foi uma aula o que ele nos deu. — “Alguém aqui, nessa mesa, sabe que a tapioca é feita com a pior parte da mandioca?” — perguntou. — “Olhem na embalagem, está lá, bem grande, avisando que, não só não tem glúten, como também não tem gordura, sódio ou qualquer nutriente além do carboidrato, que é responsável, direto, pela carga e pelo índice glicêmicos altos causadores do diabete tipo 2. Perguntem ao Google”. — Antes de perguntarem o que deveriam comer no lugar da tapioca, ele já foi respondendo: “vocês podem trocar pelo Flocão de milho, orgânico. Precisa ser orgânico, e não transgênico. Esses pequeninos flocos têm tudo que o milho pode oferecer, menos o glúten que vocês odeiam. O único problema é o preço. É caro”. — Concluiu. — Para não ficar olhando meu pai mordendo o lábio inferior, como faz quando lhe chamam a atenção, provoquei um ruído no celular e, apontando para ele, pedi licença, e saí, para “atender”.
(Já estou vendo meu pai de mercado em mercado procurando fubá para o café de amanhã. Que bom que ninguém me perguntou nada ou responderia na lata! — Se é de comer, eu como. O resto é problema do metabolismo de cada um. Espero que o meu seja exemplar).

sexta-feira, junho 07, 2024

INVEJA PURA

 


          Detesto quem fala mentira. Eu falo mentira, mas detesto. Só me agrada quando leem o que eu escrevo e, mesmo sabendo que é uma porcaria, me fazem elogios. Falam coisas que eu sei que são da boca para fora, mas eu gosto. E gosto de verdade. Gosto mais das mentiras dos homens que das mulheres. Aliás, para mim, homem não mente e se mente, não mente de coração. Já as mulheres... As mulheres, mal olham para mim e já veem defeito. Tudo o que elas encontram em mim não presta, ao passo que os homens acham tudo uma delícia, como diz o safado do vizinho da gente. Para eles, mesmo para os que não tem gosto apurado, eu sou linda, sou inteligente, charmosa e muito educada. Para elas eu não sou nada disso; não passo de uma garota metida, burra, pobre e metida a escritora, coisa que, de fato, eu não sou e não pretendo. É com base nesse relato que concluo que os homens não mentem, não quanto elas mentem, aquelas invejosas! Eu tiro por minha mãe que só me acha bonita quando visto o que ela escolheu para eu vestir. Só calço o que ela achou ficar bem no meu pé ou quando minhas amizades são de gente melhor do que a gente. Fora isso, nada que a filha dela faça é legal. Para não ouvir isso da minha própria mãe, eu saio do jeito que ela gosta que eu saia, mesmo que eu me troque na casa de uma amiga. Perguntar ao meu pai se estou bonita, eu não pergunto porque sei qual é a sua resposta. Meu pai é homem, e homem é aquele espécime que têm todos os defeitos do mundo, menos o da mentira.

sexta-feira, maio 31, 2024

QUERO PORQUE QUERO.

 


    

Eu quero muito te conhecer. Quero porque preciso rir das histórias que você vai me contar. Rir das travessuras de quando você era criança. Do jeito como dizia as palavras erradas, como sua cara ficava depois do chocolate que você comia. Quero me acostumar com a risada que você dá depois da bebida. Com o calor da sua mão encaixada na minha e te reconhecer pelo perfume a um quilômetro de distância. Quero cantar as músicas que me lembrarem da gente, cantar em praça pública para saberem que estou feliz por conta dos nossos momentos, dos melhores que passaremos juntos. Não só isso eu te peço. Eu quero mais. Peço também que me deixe lembrar dos abraços que daremos um no outro, dos beijos que você vai me dar, do cheiro no pescoço e das lambidas na orelha que eu vou receber. Por isso eu te digo, aliás, te imploro; me deixe te conhecer o mais breve possível. Me deixe ficar com você se para mim tanto faz a cara que tenha, o tão alto que que você seja, o dinheiro que tem na conta ou se não tem conta nenhuma e a cor e sua religião. Enfim, eu quero, eu preciso muito te conhecer, saber como é a pessoa a quem, eu, senhora de mim, um dia vou dar o meu coração.

SANTO DE CASA.

 


    Quando meu avô adoeceu eu fiquei muito triste. Morria de vontade de ir à igreja pedir pra ele ficar bom, mas, ir, na verdade, eu não fui. Não que eu duvidasse da minha fé, mas pela extorsão que fazem com a gente, tipo; "Faça uma promessa que o santo te ajuda. Faz assim, oh! Você pega uma cruz, uma dessas bem grandes e leva nas costas até Aparecida do Norte que seu avô fica bom". — diz uma velha com um véu na cabeça. — "Se eu fosse você subia as escadas da Penha de joelhos. Faz isso que seu avô fica curado no mesmo dia" — falou alguém com cheiro de cigarro junto a minha orelha (detesto cigarro). — Isso é ou não é extorsão, ou seria chantagem o que os santos fazem com a gente? Eu sei que vovô merece qualquer sacrifício, mas fazer trabalho de santo... ah, isso eu não vou, não! O engraçado é que santo só é santo se provar que sabe fazer milagre e quando prova e é canonizado não quer mais fazer nada exceto se receber algo em troca, tipo o sangue ou a vida. Eu não sei vocês, quanto a mim, eu não concordo que façam chantagem. Detesto. É o que dá papa escolher santos como vem escolhendo há séculos. Se fossem eleitos e não indicados, duvido que faltassem com seus compromissos, pelo menos em época de eleição como fazem os políticos. Ninguém é bobo. Não se arriscariam perder a boquinha, não é mesmo? Moral da história; eu não fui à igreja, não fiz promessa para santo nenhum e nem por isso sofri represália, ou meu avô não estaria saudável como está. Pelo menos vovó tem reclamado e nem dormir ele a deixa com aquilo encostando na sua bunda. (desculpa, mas foi como ela me disse)haha


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