Antes que perguntem se é verdade o que falei sobre a minha família, eu digo que sim. É verdade. Todos temos coisas para contar sobre o que acontece em casa, mas não contamos por medo de sermos cancelados ou por achar tudo normal e sem graça como de fato é. Na minha casa também não há nada de especial aos olhos alheios, mas aos meus há, tipo, meu pai é branco e minha mãe, uma pretinha. Se pudesse escolher, jamais escolheria a cor da minha mãe para mim, mas como não pude, nasci… preta também. Podia ter puxado meu pai, mas puxei o lado mais forte da casa, nesse caso, minha mãe. Meus cabelos podiam ser lisos, não digo loiros como os do meu pai, mas não deu e não me queixo, nem quando fazem bullying comigo. Meu pai não acha que ela não seja tão forte assim, mas fica pianinho quando ela fala com as mãos nas cadeiras. Isso é bonito, é romântico, é o que todos deveriam fazer como exemplo para os filhos e principalmente para as filhas. Não me refiro a essas que chegam e saem de casa como se morassem sozinhas, como se tivessem nas mãos as rédeas dos próprios narizes, mas para as que nascem e crescem procurando nas mães as paralelas e nos pais o alicerce onde erguerão aquilo em que se tornarão. Se alguém quiser, pode me chamar de boba por ficar horas ouvindo os meus “velhos” conversarem. Quando não estou em casa é quando presto mais atenção, principalmente se meus avôs e minhas avós estão conversando. Se eles sofreram durante o aprendizado, eu prefiro aprender sem sentir dor. É ouvindo e vendo com atenção que encurtamos o caminho, que acertamos mais do que poderíamos errar. Não sei quando comecei a falar dessa gente que amo. Mas não importa se falei porque vou continuar falando, deles e de mim, que pouco tenho para falar. No futuro, quem sabe meus filhos não contem para os filhos e os netos deles o mesmo que me fez rir e às vezes chorar de alegria ou apreensão. Pois que riam e que chorem, juntos, porque chorar sozinho, sem u'a mão no ombro, ninguém merece.