29 de out. de 2025

NÃO CORRA!

 



     
    Se tem uma coisa que me tira do sério é ouvir garotas dizerem: — “Ele não me ligou, o que eu faço?” Gente, será que ninguém entendeu que a resposta é NADA? Isso mesmo, a resposta é NADA, porque mulher que se preza não fica ligando para homem! Não liga, não manda WhatsApp, não manda recado pelo Face, pelo Instagram, nem nada! Nada, estão me entendendo ou preferem que me expresse por libras? Uma amiga da minha mãe, mulher bonita, muito bem empregada, 32 anos, sem filhos, sem marido para encher o saco e morando na zona sul, esteve um dia desses na casa da gente. Infelizmente, mamãe não estava. Sobrou para quem? Para mim! E eu fiz as honras da casa. Essa pessoa falou o tempo todo sobre um cara que faz com ela o que qualquer um faz quando a gente dá mole, ou seja, não atende às ligações e não responde aos recados do ZAP. Normalmente, elas vão procurá-los e é o que essa bonita me diz que acaba fazendo. Cansada daquelas besteiras, deixei escapar: — “mulher de vergonha não corre atrás de homem”. Ouvindo aquilo, ela travou. — “Como assim, amiguinha?” — perguntou. Ao explicar como os homens interpretam os nossos telefonemas, os Zaps e o Status do Face e do Instagram, me senti como se tivesse revelado a fórmula secreta da Coca-Cola para ela.
Pensei que ela fosse dar na minha cara quando se levantou. Mas não. Era para receber minha mãe que chegava. Enquanto se abraçavam, vazei para o meu quarto. Ah, para com isso! Correr atrás de homem…

24 de out. de 2025

É MEU!

  



    Vão dizer que é mentira, que estou inventando. Só que não. Eu vi. Isso eu garanto. Vi um garoto perguntando de quem era o iPhone que ele acreditava ter sido esquecido no banco daquela pracinha. A única boba do pedaço completou 18 anos sem ter consciência de que um celular pode ter tantos donos quanto aquele provava ter. Infelizmente a maioria, que se dizia dona, não digitou a senha que o desbloqueava.
Poucos minutos depois alguém conseguiu.
E eu lá, olhando com essa cara de trouxa. O dono, que não acreditava que pudesse encontrá-lo, estava bastante feliz.
Depois do falatório e do disse me disse, cada um procurou seu caminho. A praça voltou ao que era: triste e vazia. O garoto, pela nobreza do gesto, recebeu em agradecimento um aperto de mão, enquanto o dono, feliz da vida, seguiu seu destino. Não só o gesto me chamou a atenção, mas o brilho dos olhos daquele menino. Sua felicidade era infinitamente superior à de quem recebeu de volta o que havia perdido. E ainda afirmam que a recompensa financeira é mais vantajosa.

19 de out. de 2025

DESCULPA, PERDÃO, SINTO MUITO!

 



        Desde que aceitei pular de paraquedas, não consigo mais dormir tranquila. Mas, talvez por orgulho, não falasse nada para ninguém. Nem convidei os amigos, como havia prometido, eu convidei. Este pedido de perdão é dirigido ao meu pai e ao amigo que me convidou para pular e que, a meu pedido, não me condenou por não pular. Não esqueço quando ele disse que, se a pessoa que vai com ele negar a porta, ele empurra. Graças a Deus, não fez isso comigo. Obrigada. Obrigada, Silvioafonso, de coração! Eu vi a frustração no seu rosto ao desconectar o equipamento que me prendia ao senhor. Desculpa e muito obrigada. Outra coisa: eu estava tão nervosa que nem olhar o senhor caindo eu olhei e, para sair do avião, o meu pai precisou me tirar. Eu estava travadona!
Aos meus leitores e aqueles que torceriam por mim, eu peço desculpas! Foi horrível o frio na espinha no momento em que o avião, cheio daqueles fanáticos por adrenalina, deixou a pista. Os malucos discutiam sobre tudo, menos sobre medo, ansiedade ou coisas que eu tenho frequentemente. Mas uma coisa eu digo: prometo dar um voo de parapente com quem me convidar. Não agora, mas que prometo, eu prometo.

14 de out. de 2025

SIM, MAJESTADE!


     Meu pai diz que ninguém pode afirmar que Deus realmente queria que o homem governasse os outros seres vivos. Ele acredita que o homem criou “Deus” para sacramentar o poder que usurpamos do jumento ou do boi. — O direito de caçar um veado ou matar uma vaca é a única coisa com a qual a humanidade inteira concorda.  Isso - continua falando — “é o direito que temos, sobre o resto dos animais, com o qual todos concordamos. Agora, vejamos; imagine se um terceiro entrasse nessa história, um habitante de outro planeta, por exemplo. Imaginemos que Deus tenha dito a ele: tu reinarás sobre todas as criaturas do universo!” (Enquanto ele falava, eu pensava:)
Gente, meu pai está falando sobre Gênesis! Esse foi o primeiro livro que li na igreja quando era criança!
Foi assim que meu pai me pegou rindo, não do que ele dizia, mas de pensar em vê-lo, branco, bonito e forte, atrelado a uma carroça, fazendo o trabalho que os burros fazem, às vezes o cavalo e os bois. Cheguei ao cúmulo de ver minha mãe girando num espeto, como fazem com os frangos nos domingos, à porta dos restaurantes. Não diria isso, nunca, aos meus pais, mas, a partir de hoje, passo a olhar com mais respeito o resto da bicharada.


9 de out. de 2025

A CASA DA MINHA AVÓ

 



Meus bisavós desejavam vender o sítio onde os pais da minha mãe moram hoje em dia. Uma tarde chuvosa, o maluco do meu bisavô se encontra, por acaso, com um tal de Olavo Bilac, a quem tão bem conhecia. A ele, esse doido, confessa o desejo que tinha de vender a propriedade. Aproveitando o encontro, meu bisavô pede ao amigo para redigir um anúncio para ele pôr no jornal. Atendendo ao amigo, Bilac escreveu: “Vende-se encantadora propriedade onde cantam os pássaros, ao amanhecer, no extenso arvoredo. É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda.” Passado alguns dias, o poeta encontrou-se com meu bisavô, a quem pergunta se vendeu o sítio. Meu avô então diz que o pai dele, meu avô, estufou o peito para dizer: — “Nem pensei mais nisso, poeta! Depois que li o anúncio, foi que vi a maravilha que tinha”.
“As coisas são assim, desse jeito, disse meu avô ao pai dele. Quem está dentro não vê o que os que estão do lado de fora conseguem enxergar”.