Nunca senti falta de doida nenhuma como sinto da minha prima. Essa doida é com quem desabafo quando Buluda não está disponível. Lamentavelmente, essa amiga, Buluda, minha confidente, dispensou alguns dias para visitar a Bahia com o namorado. Minha prima também é legal. É maluca, mas é confiável e quando se pede ela guarda segredo. Não toca no assunto, não interrompe enquanto escuta e nem joga na cara quando brigamos. Por isso, eu gosto dela. Mas devia estar jogando quando liguei, por isso não retornou. Que falta faz o fixo de antigamente. Quando aquilo tocava, todos corriam para atender. Aí, após atender, batiam na porta do quarto e eu, a essa hora, estaria falando do riso idiota que apareceu no meu rosto quando acordei. Ela certamente cairia na gargalhada ao saber que só dei pela coisa quando fui ao banheiro e me olhei no espelho. Talvez por acordar antes de meus pais me enfiarem no forno. Antes desse riso aparecer na minha cara, eu achava que seria servida numa travessa no jantar da noite passada. No sonho, porque foi um sonho, os meus pais cochichavam. Enquanto mamãe pedia para untar a forma com manteiga, o meu pai dizia que deixasse os temperos com ele. — "Ative o forno à temperatura máxima para que, em duas horas, ela esteja pronta para o consumo. Depois a gente corta os pedaços e serve com arroz branco e farofa de bacon com banana". — Dizia meu pai, baixinho, à minha mãe. Aí eu pergunto: — Como não me apavorar diante de uma declaração pavorosa, como essa? — Quando acordei, já estava de boa, só o sorriso que eu tinha nas fuças é que me incomodava. É por isso que eu quero falar com ela, mas a bandida não larga o videogame. Se largasse, com certeza, me ligava de volta, mas como é doida, não vê, não fala e não escuta. Se fosse ligação de homem... ela atendia. (ou não?)