Meus tios davam doces desde que eu era pequena. Ele afirmava que era promessa da minha tia, enquanto ela garante que é por tradição. Muitas vezes, antes da data, eu os via preparando os saquinhos, mas dá-los a mim ninguém dava, só no dia seguinte. Aquelas eram as 24h mais longas da minha vida. Na tarde seguinte, já no dia 27, meus tios levavam os saquinhos para o portão numa bolsa de supermercado. O legal era ver a expressão de cada criança ao abri-los. Umas se encantavam, enquanto outras, com tristeza, por não conseguir uma extra para dar ao irmão que ainda não anda sozinho. Mas, de resto, era o mesmo de sempre. Muitos saquinhos para um número ainda maior de crianças. Nem todos conseguiam os doces que foram buscar. Também existiam os espertos que desejavam — e, em alguns casos, conseguiam — abocanhar mais de um.
Eu realmente não considero que dar doces no dia de Cosme e Damião seja uma prática religiosa. Embora tenhamos consciência de que a celebração está relacionada à Igreja Católica e aos cultos afro-brasileiros, como a Umbanda e o Candomblé. Mas, para mim, o mais importante é a tradição que enxergo como parte do nosso folclore, o que, a meu ver, deve ser preservada.
Bora lá, pegar doce, tia Rô!, diz a filha de seis anos, da minha prima, a quem pego no colo para beijar sua face, sorrindo.
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