— O senhor não me conhece, como me manda sentar ao lado? — deu vontade de falar para o velho que batia com a mão espalmada no banco — mas não falei, calei. E se eu sentasse, o que ele faria? Ia me dar uma cantada? Ah, me poupe! Nada contra as pessoas idosas, mas me cantar só por estar desacompanhada aquela hora da noite? Assim já é de mais, não é não? Me deu uma vontade danada de mandá-lo pastar ou coisa pior. Mas, pastar, tava de bom — só que não mandei. Agora vc vê. Já pensou se eu faço o que ele pediu! Um cara todo cheio de rugas, mãos tremendo. E nem tava frio pra ele tremer. Será que me confundiu com a neta? Só pode ser… Já pensou se eu, uma velha de 18 anos, cantasse um moleque de 12 anos, o que iriam pensar? E olha que não sou tão velha assim se acabo de deixar às fraldas, como diz minha mãe. Fechando os olhos, vejo o velho batendo a mão no banco ao seu lado. Quando chamou pensei que nem fosse comigo, mas era.
Só agora me toquei: o que será que ele queria comigo? E se não fosse cantada? Já pensou se tivesse me confundido com a neta dele, ou quisesse desabafar, falar da vida, me pedir dinheiro pra voltar pra casa?! Quem sabe não conhecesse pessoas da minha família, fosse professor dos meus pais, no passado?! Gente, do que vale estudar como tenho estudado se na hora de resolver um problema, eu travo, congelo e acabo correndo pra longe?! Deus me livre de contar pros meus pais. Certamente me obrigariam voltar pra saber o que ele queria comigo. Lá não volto de jeito nenhum, nem com eles e nem com ninguém.
2 comentários:
Strange story,
but interesting full of reflections!!
Otimo post querida
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