Tradutor

17 janeiro 2025

O TREM

 




    Querendo aproveitar um pouquinho das férias, pedi pro meu pai me levar à casa da minha avó, mas quando ele olhou pra cara da minha mãe que abaixou a cabeça entendi que não ia rolar. Minha mãe não deixaria, por isso recorri ao meu pai que pelo que pude notar, também disse não.
— ′′Já estou crescida, gente, por que eu não posso ir sozinha? Vocês me levam até a estação me colocam no trem e voltam pra casa. Não tem perigo nenhum” — eu disse para eles.
Após uma breve discussão concordam em me levar.
Na estação ninguém disse nada. Eu, nervosa e os dois mais calados que antes. Depois do apito mamãe, apertando um terço junto ao peito, benzeu minha testa e beijou minhas mãos. — “Vai com Deus, minha filha. Não esquece de ligar assim que chegar”.
— “Tá bem, mamãe. Quando chegar eu ligo. Prometo“.
O trem já estava saindo quando meu pai disse, baixinho, para ninguém escutar:
— ′′Filha, se você se sentir mal ou insegura, isso é para você!” — terminou com a mão no meu bolso tipo colocando uma oração, um comprimido para enjoo ou algo parecido envolto em meia folha de caderno.
O trem bufava soltando fumaça e eu ali sozinha olhando pela janela. Uma criança chorando a duas poltronas atrás de mim, me chamou atenção. A mãe, conversando com outras mulheres, ignorava a presença do filho. Durante as paradas era um tal de empurra, empurra de gente entrando e saindo que me deixava muito apreensiva, nervosa. O cara que entrou pedindo os bilhetes, falou qualquer coisa a uma senhora com um chapéu engraçado apontando pra mim. Não sei porque a velha me olhou com tristeza. A partir dali a confiança que eu tinha em mim acabou. Já não me sentia segura como antes. Comecei a ficar enjoada, as mãos molhadas. Até que o medo me tomou por completo. Abaixei a cabeça e... me sentindo um tanto perdida, comecei a chorar. Então me lembrei do meu pai com a mão no meu bolso. Peguei a jaqueta e vasculhei bolso por bolso, mas não achei nada. Nenhum remédio ele deixara ali. Só um bilhetinho dizendo o seguinte:
— ''Filha, qualquer coisa estou no primeiro vagão atrás do seu”.
Corri até onde ele estava sentado. A gente se olhou e eu, chorando, me joguei em seus braços. Meu pai, fingindo não ver o meu desespero, desculpou-se por estar me seguindo.
E eu o desculpei. Desculpei aquele anjo que sabe tanto de si, quanto da filha que tem.

16 comentários:

Ester disse...

Maravilloso, los padres son los ángeles de la guarda, solo cuidan sin molestar. Un abrazo

Albada Dos disse...

Ese padre es maravilloso, a veces hay recuerdos de abuelas que es mejor no tener como presente.

Un abrazo

Jotabê disse...

Final surpreendente! Muito legal.

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Ah que fofo seu comentário. Adorei, mesmo.
Bjus!!!!

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Pai é sempre bom nessas horas, né, não?!!!
Obrigada por comentár

Tomás B disse...

Creo que con la edad que te calculo yo ya me desplazaba solo a unos 60 kms a la capital de la provincia en el autobús y a otra ciudad en tren. Quizás el haberme desplazado a diario al colegio a una localidad a unos 15 kms desde muy niño era lo que me daba seguridad.

Saludos.

Pequena con estilo disse...

Otimo post querida

MELODY JACOB disse...

Such a powerful and emotional story, full of tension and vulnerability. The love and care between the family members really come through, especially the father's subtle but profound gesture. Truly gripping.

You are invited to check out my new post: https://www.melodyjacob.com/2025/01/denim-on-denim-styling-cinched-waist-denim-vest.html

Os olhares da Gracinha! disse...

Gosto da história ☺️😘

Alécio Souza disse...

Querida Rô,
Que história emocionante, é tão lindo quando temos os pais tão presentes em nossa vida, eles sabem as nossas fraquezas, os nossos medos e são os nossos verdadeiros heróis. Parabéns para o seu pai, achei fofa a atitude dele.
Um beijo!

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Vivo cerca del colegio por lo que siempre voy solo. No, no voy a salir a caminar. Si le pregunto a mi padre, lo dejaré, pero no me gusta. Aquí es difícil caminar largas distancias solo.
Muchas gracias por comentar.

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Ele é ótimo. Obrigada. Um beijo.

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Obrigada. Você está sempre comentando minhas postagens. Muito obrigada. Um beijo!

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Thanks. I am going yes. I visit the page at any time.
A hug.

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Gosto muito quando a senhora aparece. Obrigada por vir.
Um beijinho.

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Que legal, Alécio. Que legal que gostou. Quando vc aparece já sei ja sei; lá vem elogios. Obrigada de verdade, viu?

MEU TIO, MINHA AVÓ E MEU PAI.