Querendo aproveitar um pouquinho das férias, pedi pro meu pai me levar à casa da minha avó, mas quando ele olhou pra cara da minha mãe que abaixou a cabeça entendi que não ia rolar. Minha mãe não deixaria, por isso recorri ao meu pai que pelo que pude notar, também disse não.
— ′′Já estou crescida, gente, por que eu não posso ir sozinha? Vocês me levam até a estação me colocam no trem e voltam pra casa. Não tem perigo nenhum” — eu disse para eles.
Após uma breve discussão concordam em me levar.
Na estação ninguém disse nada. Eu, nervosa e os dois mais calados que antes. Depois do apito mamãe, apertando um terço junto ao peito, benzeu minha testa e beijou minhas mãos. — “Vai com Deus, minha filha. Não esquece de ligar assim que chegar”.
— “Tá bem, mamãe. Quando chegar eu ligo. Prometo“.
O trem já estava saindo quando meu pai disse, baixinho, para ninguém escutar:
— ′′Filha, se você se sentir mal ou insegura, isso é para você!” — terminou com a mão no meu bolso tipo colocando uma oração, um comprimido para enjoo ou algo parecido envolto em meia folha de caderno.
O trem bufava soltando fumaça e eu ali sozinha olhando pela janela. Uma criança chorando a duas poltronas atrás de mim, me chamou atenção. A mãe, conversando com outras mulheres, ignorava a presença do filho. Durante as paradas era um tal de empurra, empurra de gente entrando e saindo que me deixava muito apreensiva, nervosa. O cara que entrou pedindo os bilhetes, falou qualquer coisa a uma senhora com um chapéu engraçado apontando pra mim. Não sei porque a velha me olhou com tristeza. A partir dali a confiança que eu tinha em mim acabou. Já não me sentia segura como antes. Comecei a ficar enjoada, as mãos molhadas. Até que o medo me tomou por completo. Abaixei a cabeça e... me sentindo um tanto perdida, comecei a chorar. Então me lembrei do meu pai com a mão no meu bolso. Peguei a jaqueta e vasculhei bolso por bolso, mas não achei nada. Nenhum remédio ele deixara ali. Só um bilhetinho dizendo o seguinte:
— ''Filha, qualquer coisa estou no primeiro vagão atrás do seu”.
Corri até onde ele estava sentado. A gente se olhou e eu, chorando, me joguei em seus braços. Meu pai, fingindo não ver o meu desespero, desculpou-se por estar me seguindo.
E eu o desculpei. Desculpei aquele anjo que sabe tanto de si, quanto da filha que tem.
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