Meia hora no ponto e nada do ônibus chegar. Nem táxi, carro de aplicativo, nada. Eu já estava nervosa, como volto para casa? Para estudar na casa da amiga vim bem, mas voltar é que não estou conseguindo. — “Tá de greve, menina”. — Escutei um velho numa bicicleta falando. — “Obrigada, vou pedir para o meu pai vir me buscar — falei para quem, pedalando, já não me ouvia”. Liguei, mas ninguém atendeu. Esqueci que foram ao cinema. Só Deus para me ajudar, eu pensava, quando alguém buzinou. Eu nem ia olhar, mas uma moça, abrindo a porta do carro, falou: — “Estamos indo para a Tijuca, quer carona?” — Tijuca era meu caminho e como só tinha mulher, aceitei. Quem sabe, não me deixassem em casa — pensei. De repente, por cima do meu ombro, falaram no meu ouvido: — “Aí, oh!, dá um trago aí que essa é da boa, você vai gostar, podes crer” — “Não, obrigada, eu não fumo”. — Falei empurrando aquela coisa fedorenta da minha frente. Não só ela, como todas no carro, inclusive a motorista, fumavam aquela porra caria (desculpa, mas é isso mesmo que eu quis dizer). De repente o carro parou e a motorista, passou por cima de mim, abriu minha porta e falou; — “troca de lugar comigo. Você dirige. Quando passar a blitz eu pego de volta”. — “Mas eu não sei dirigir! Nunca peguei num volante!” — Falei. — “Dá a volta e entra no carro. Faz o que eu falar que ninguém vai notar que você não tem carteira, entendeu?” — “Tudo bem, se você insiste, vamos tentar!” — E assim eu fiz. Com ela falando, o carro deu uns pulinhos, mas conseguimos. Tudo ia bem quando a blitz, surgiu a nossa frente. — “Toca em frente, não para. Só para se eles mandarem”. — E mandaram. Um policial, com a mão levantada, mandou que a gente parasse. O carro deu um pulo e parou. — “Seu documento e os documentos do carro, senhorita”. — Felizmente a luz era fraca e o guarda não percebeu que eu era menor e carteira, cloro, não tinha — “Por favor, os documentos do carro e o seu” — insistiu. — “Esqueci na outra bolsa, seu guarda. A gente mora aqui perto” — menti. — “Desce do carro, você e os outros. O carro está apreendido” — sacou um bloquinho onde anotou qualquer coisa. — “Sim, senhor, tudo bem” — respondi. Abri a porta e saí, deixando as outras discutirem com ele. Tentei outras vezes o aplicativo e até conseguir; milagre! Diria vovó.
— “Tudo bem com você, filha? Já estávamos preocupados.” — “Está, sim, mamãe, é que o pai da garota com quem fui estudar, disse vir me trazer, por isso fiquei lá mais um pouco. Mas está tudo bem, sim, mamãe”. — Menti mais uma vez.
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