O NATAL DAS MENINAS

 

    “Você deu conta do peru?” — D.Márcia me parou perguntando. — Isso é coisa pra responder, D. Márcia? — Eu queria ter perguntado. Nunca, em tempo nenhum paramos pra conversar, até porque, seu papo é diferente do meu. Enquanto ela é casada, mãe e vive solta por aí, eu não passo de uma garota, meio menina, meio mulher, obediente à família. Quanto a intimidade, nem com pessoas da minha idade costumo falar, não seria com ela, que tem mais idade que minha mãe que eu falaria. Quanto ao natal, não foi diferente dos outros. Aninha tomou vinho e fez o que fez. Sandra, a extrovertida, jurou passar para nos abraçar, mas não veio, viajou sem dizer para onde e com quem. A mãe apareceu perguntando, mas neguei que soubesse, mesmo sabendo. Não deduro desconhecido, vou dedurar uma amiga, como acho que somos? Neusinha foi a mais comportada, mas trocou de namorado para ir à  festa, bem mais assanhado. Perguntado me respondeu que o escolhido pras festas era esse e o do dia a dia o que eu conhecia. Enfim, a “otária” da festa fui eu, sempre eu. Se fazem o que lhes vem à cabeça, por que não fazer o que vem à minha? Para os que me conhecem sou comportada, bem-educada etc., mas, para dizer a verdade, sou como todas as outras, que, para se mostrarem diferentes, fingem. Ah, os presentes? Bem, aos meus pais presenteei passando nas provas do ENEM. Aos meus avós dei beijos, flores e o chapéu que meu avô tanto queria. (obrigado papai por me dar o dinheiro). Quanto ao resto, bem, o resto é só festa, é rabanada ou peru fatiado na mesa, bolas de gás pelos cantos da casa e muito hohoho em meados da meia-noite.