sábado, setembro 21, 2024

JOGA BOSTA NA GENI!

 


É incorreto supor que o negro tenha orgulho de sua cor. É claro que não tem, mas negam a realidade. Falam sabendo não haver como mudá-la ou estariam se bronzeando em Ibiza. O melhor de tudo é que ninguém fica rindo dessas piadas. Já eu, fico na minha, não falo que sim, nem falo que não. Diariamente os ofendidos, quando não vão às tevês, reclamam nas redes sociais enquanto aqueles que nos discriminam ignoram. Eu também me ofendo, mas não digo nada. Não por omissão ou covardia, mas por achar que nada muda coisa nenhuma, e não seria eu quem mudaria essa peça. Atriz de papel idiota eu não sou e se não tiver outro prefiro que me tirem do filme. Jamais me orgulhei dessa cor vendo a polícia invadir ônibus, cheio de gente branca, correr os olhos e vir direto para me revistar. — Por que eu, seu polícia, é por causa da minha cor? Como faço para passar, pelos seguranças do supermercado, como fazem os brancos, sem desconfiarem de mim? Isso para não falar que, mesmo sem levantar a mão, me enxergam na multidão. Não, eu não seria a porta-bandeira desse estandarte. Deixo para quem acredita que os ouvidos surdos da lei vão ouvi-lo ou os que acreditam que o mundo sempre foi branco mudem de opinião, o que duvido muito. Não me orgulho como preto nenhum se orgulha da cor da nossa pele e se preta eu não fosse, não me orgulharia também. Cor de pele não é escolha, muito menos mérito ou o mundo não seria pintado com as cores que foi. Já pensou arco-íris em preto e branco, que beleza teria? Na minha casa, como na casa dos meus parentes, ninguém bate no peito, fica na ponta do pé, e grita pela honra da pele. Pelo menos que eu saiba. Mas, se julgar que é válido, grite. Grite que eu também vou te ouvir. (Hoje nem a cara na janela eu boto)

4 comentários:

Jotabê disse...

A neta de uma irmã de minha mãe é geneticista e fez o exame de DNA de sua avó. Fiquei sabendo disso no velório dessa minha tia. Perguntei à sua neta o que tinha encontrado e ela disse não se lembrar, pois o exame já havia sido feito há muito tempo. Insisti na pergunta e ela disse se lembrar apenas de ter encontrado uma ascendência indígena distante. Achei aquilo o maior barato, pois se minha tia possuía essa ascendência, o mesmo deve ter acontecido com minha mãe e os outros irmãos. E logicamente, comigo também.
Considero o fim da picada o preconceito que alguns idiotas sentem por afrodescendentes. Imagino que isso se enquadre naquele verso do Caetano (“Narciso acha feio o que não é espelho”). Mas vou te fazer uma confissão: nunca tive grilo com cor ou “raça”, nunca mesmo. Mas por ter nascido pobre, muito pobre, o que sempre evitei foi andar na companhia de gente mais pobre que eu, identificada pelo vocabulário limitado e pelas roupas simples e baratas. E, pior ainda, andar com pessoas sem educação e cultura, daquelas que relincham em vez de rir, que falam alto, que se sentem (sem ser) as donas da verdade, gente nunca leu um livro por prazer, gente que não entende o que ouve se as palavras são menos corriqueiras, gente que fala "menas", etc. Ainda bem que meu preconceito não pode ser tipificado como crime (por enquanto!).

Tomás B disse...

Cada uno nacemos con un color de piel determinado y pienso debíamos estar orgullosos de ello. Y también pienso no se debe juzgar a nadie por su color de piel.

Saludos.

Edite Lima disse...

Gostei de seu texto! bem sinncero ! tb penso assim. Pra hipocriisia de muitos .

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

Esse texto traz reflexões profundas e necessárias sobre a relação entre identidade, raça e a percepção social. A voz do narrador ressoa com uma sinceridade crua, expressando a frustração diante da discriminação e a busca por um reconhecimento que vai além da cor da pele.

A maneira como aborda a falta de orgulho por algo que é intrínseco, como a cor da pele, provoca uma reflexão sobre o que realmente significa orgulho. É doloroso ver que, em vez de se orgulhar, a realidade é marcada por desconfiança e preconceito. A crítica à superficialidade das afirmações de orgulho é poderosa e revela a complexidade das experiências vividas por aqueles que enfrentam discriminação.

O uso de imagens cotidianas, como a visita da polícia ou as interações em supermercados, ancoram as reflexões em situações que muitos podem reconhecer, fazendo com que o texto se torne ainda mais impactante. Além disso, o desdém pelo papel de “atriz” que a sociedade tenta impor aos indivíduos negros é uma afirmação de resistência e de uma busca por dignidade.

A última frase é especialmente tocante, expressando um desejo de não ser apenas um espectador passivo na própria vida, mas também um chamado à ação e à consciência coletiva. Esse tipo de texto é fundamental para abrir espaços de diálogo e reflexão sobre a questão racial, promovendo uma maior empatia e entendimento nas relações sociais.

BEIJOS EM SEU 💗
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