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03 maio 2024

O AMOR DO MEU PAI.

 



   Minha mãe ficou uma arara quando a luz acabou. Meu pai, que não assiste novela, estava de boa. Sentou ao meu lado, na soleira da porta, onde ele sabe que morro de rir com as bobagens que conta. Ficamos um momento sem dizer nada até que, sem eu esperar, me falou uma coisa que, jamais esquecerei. Falou da mulher que fez dele o homem que é. O nome não me era estranho. Talvez o tivesse lido em um blog ou revista. Mas essa, essa era mais poderosa. A ela meu pai confiava as senhas do banco, das redes sociais e do seu celular e como me fez entender, confiava a vida. Eu ouvia estarrecida aquele relato. A luz da vela, que mamãe acendeu, não me deixava ver como estavam seus olhos, não sei se molhados ou não. Meu pai devia amar muito aquela mulher ou não confiaria as senhas do banco e das redes sociais. Até do celular ela tinha.  Antes que eu perguntasse como tudo acabou, ele disse que foram passar um fim de semana a beira de uma represa onde todos remavam a luz do luar. Não foi por sua vontade que levaram o barco para além dos demais onde tudo acabou. O barco virou e meu pai, preocupado em salvá-la, afogou-se com ela. Não adianta saber nadar se não entende de salvação, e meu pai não entendia. Precisa técnica, coisa que ele não tinha. Massagens, beijo na boca, tapas no rosto e, finalmente, água e mais água foram expelidas sob aplauso dos que assistiam. Um dia hospitalizados. Era o que ele pensava, mas não, pois, só ele escapara. Foram anos de sofrimento até o aparecimento de minha mãe. Seria ela a nova Buluda? — eu me pergunto. — Será que enxerga na minha mãe a imagem daquela mulher? Aquela que, segundo me disse, seria motivo da sua existência? Se for ou se não for, para mim tanto faz, pois, se está bem conosco, não importa o passado que teve. Que bom, meu pai, que o senhor tenha vivido essas coisas para hoje, feliz como demonstra que é, possa contar para a filha que o senhor vive dizendo que ama, como me diz amar minha mãe… ou seria a Buluda?

17 comentários:

silvioafonso disse...

Não sei se por falta de tempo ou
de organização não tenho ido aos
blogs dos meus amigos. Ao seu, por
exemplo. Rô, esse seu jeito de tratar
as pessoas, é formidável. Adoro sua
escrita e olha, como tenho idade
para ser seu pai ou, quem sabe, seu
avô, eu te dito sem medo de errar:
Rô, você é: EFE, Ó, DÊ, A; maravilhosa.
Um abraço.

Pequena con estilo disse...

Lindo post, un saludo

Martha Jane Orlando disse...

Family can be so complicated, can't it?
Blessings, Ro!

Ester disse...

Un canto al padre cuando se acerca el día de la madre, los dos cuando son complementarios son lo mejor que tenemos. Un abrazo

A Paixão da Isa disse...

paasando para desejar um lindo e feliz fim de semana com muita saude bjs um post muito entresante bravo

Flávio Cruz disse...

Como sou mais velho que o mestre Sílvio, sinto-me inteiramente à vontade para concordar com ele, sem concluir a soletração. :) Mas só uma perguntinha, Rô: tem certeza que o nome era Buluda? Meu abraço, bom fim de semana.

Albada Dos disse...

Bueno, aquí mañana es el día de la madre, pero sin padre tampoco existiríamos :-)

Un abrazo

Eduardo Medeiros disse...

Quase todo mundo já teve um grande amor na vida e não é necessariamente a pessoa que hoje está ao nosso lado. O principal é não viver de passado, viver de presente. Deixar o passado ser apenas uma brisa suave que passa enquanto desfrutamos do vento forte que hoje nos embala.

Tomás B disse...

Como nos dices esa mujer puede ser su esposa (tu madre) u otra persona. Creo has realizado un buen relato debería lo transcribiste a la perfección aquello que te relato tu padre.


Saludos.

JoAnna disse...

Ótima postagem, a família é nosso refúgio, mesmo quando não há luz elétrica. :)) Abraços para você e seus pais.

Luciano Otaciano disse...

Oi, Rô! Muito bom o texto. Família é tudo! Você perguntou-me sobre o que acho da escritora Colleen Hoover.
Hoover é uma escritora maravilhosa Rô! Quando puder leia os livros dela, mas se atente aos gatilhos que em geral suas obras trazem. Se você for uma pessoa muito sensível, é aconselhável não ler os livros da Hoover. Abraço!

Graça Pires disse...

O que é do passado, no passado fica. Gostei da sua narrativa.
Um beijo.

J.P. Alexander disse...

Los padres tambien comenten errores y cuando amas siempre hay camino al pendón. Te mando un beso.

Vivir y dejar Vivir...Liz disse...

Querida RO, preciosa narrativa, cada familia es un mundo, tu sigue adelante.
Abrazos y besos, que tengas un feliz inicio de semana 💋💋

Cocina con Paco disse...

Hola buenos días.
El cariño y el amor por la familia, siempre supera todo, lo malo muchas veces es que cuando nos damos cuenta ya es tarde.
Un abrazo

Jovem Jornalista disse...

Bela reflexão.

Boa semana!

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Até mais, Emerson Garcia

Katerinas Blog disse...

This family that protects us nurtures us and provides us with the first acceptance and socialization.
Also there may be some secrets in a family or some things that there is no reason to be subjected to.
Your story is beautiful,
I liked it.

ARREPENDIMENTO.