JOVEM TAMBÉM TEM SAUDADE.

 

Ultimamente eu tenho sentido saudade. Muita saudade. Saudades do meu primeiro namoradinho, da minha primeira boneca, do segundo namoradinho, das outras bonecas, do terceiro namoradinho e dos outros que ainda eu vou ter. Tenho sentido saudade dos dias de hoje, que eu não aproveitei todo, como tenho lembranças desses dias passados. Não muitas, mas poucas lembranças, ou seriam muitas? Agora, do futuro, eu só tenho esperança. Esperança de que seja do jeito que penso e não do jeito que me farão engolir. Acho que todos têm saudade, mas não como as que eu tenho. Tenho saudades de quem me deixou esperando como tenho saudade de quem eu deixei olhando para um lado e para o outro e não me enxergaram!

Saudade de quem disse querer me vir e não deu as caras.

Saudade de quem apareceu com tanta pressa que nem me conhecer direito, conheceu. E de quem eu jamais terei chance de conhecer.

Sinto saudades daqueles que partiram e de quem nem se despedir direito puderam. Daqueles que partiram sem ter como me dar um alô, um adeus! Saudade de quem podia ter cruzado o caminho da minha vida, mas preferiu a rua de cima e nem do nome eu pude saber.

Sinto saudades das coisas que eu não tive e das coisas, das poucas coisas, que eu pude chamar de minhas, como aquelas que eu não tive, mas queria muito.

Sinto saudades do meu gato, Tico, e do Válter, meu cachorro, que me amavam, mas também partiram sem se despedirem.

Sinto saudades dos momentos que eu me escondia para viajar nos livros do meu pai. Saudades das fitas cassete que ele guardava tão bem que eu só ouvia quando era chamada. Meu pai fechava os olhos para ouvir Bee Gees, enquanto eu, também fechava os meus querendo sentir o mesmo que ele.

Saudade das coisas que vivemos juntos, todos juntos. Com mais um ou dois, talvez uns dez ou mais. Saudade dos que chegaram e dos que se foram. Dos que pude conviver e dos que eu não pude, mas queria. Saudade de rever as coisas que eu não conheci, mas acreditava conhecer.

Saudade é uma coisa engraçada. A gente sente para ficar deprê ou, se não sente, fica também.