EU VOU OU NÃO VOU?

 

Minha mãe perguntou se eu tinha notícia da minha prima e eu disse que não, menti. Sabia que ela ia me pedir para visitá-la, saber se estava bem, se o emprego a deixava feliz, coisas que a mãe da gente faz e que a gente não entende. Muitas vezes me senti para baixo e ninguém me procurou para saber nada a meu respeito. Felizmente a mãe é minha e mora na mesma casa que eu. Mas permiti que falasse, que me desse o dinheiro da passagem, que pedisse que eu não demorasse já que se preocupara com a sobrinha e não queria sentir o mesmo por mim enquanto estivesse fora. Depois da escola eu fui à casa da minha tia que nunca tem nada para contar nem dela, do marido e muito menos da filha.

— E então, prima, como você está passando, tudo bem? E as coisas, como estão?

— "Estou bem, respondeu. Quando vou trabalhar é o mesmo atraso de sempre! Ainda tenho medo de levantar, medo das ideias que povoam minha cabeça e que, felizmente, morrem no meu travesseiro. Também tenho medo do amor, de voltar a sentir aquela dor insuportável, mesmo que desta vez pudesse doer menos. Medo que os meus pensamentos se limitassem a esse tipo de coisa, de dor, haja vista que se tornaram muitas durante às noites, como provam as olheiras que carrego, disse cobrindo o rosto com as mãos".

— Eu queria interrompê-la, dizer que aquele já era outro dia, mas ela não permitiu. Disse ouvir sempre a mesma pergunta:

— "será que hoje vai ser diferente? Será que eu volto a sorrir em breve, de verdade, sem fingimento?"

— Ela também falou que há muito não sentia essa emoção.

— O Rock in Rio já abriu inscrição, você quer ir comigo? — perguntei como se meu pai me deixasse sair para esses lugares. Mas, pra minha surpresa, ela disse que sim, que queria. Talvez mude de opinião, mas, como nunca fui lá, eu acho que vou. Quem sabe não me curo de vez! Com você eu vou, pode ter certeza. Putz, olha no que eu meti! Felizmente falta uma eternidade para essa festa e até lá minha prima já deve, até, ter se casado, quem sabe?

Que Deus me ouça…