Meu pai não é escritor, mas escreve muito bem, principalmente pequenas peças para teatro. Quando minha amiga Ritinha, que faz parte de um grupo teatral, soube que meu pai escrevia para jornais, me pediu que o apresentasse a ela. A intenção era criar um monólogo que encenaria no teatro do bairro. Ela deu a ideia e o meu pai escreveu. Durante dois anos a peça foi ensaiada. Sentindo-se preparada, Ritinha alugou um espaço e vendeu os convites. No dia da estreia minha amiga nos procurou. — “Não vou fazer mais peça nenhuma. Vou devolver o dinheiro, entregar o espaço e sumir da cidade”, disse muito nervosa. Meu pai, ouvindo o que ela dissera, correu ao nosso encontro e falou com ela como falaria comigo; — “mas, o que aconteceu para você falar desse jeito, pode me dizer?” — Não vou conseguir, me desculpe. Eu sinto que quando entrar em cena vou esquecer tudo o que decorei. Só de pensar naquela gente me olhando me deixa assim, tremendo desse jeito, oh! — Mostrou as mãos para o meu pai. — O senhor me desculpa, mas não vai dar. Não vou fazer mais — Ritinha escondeu o choro com as mãos. Meu pai ficou muito nervoso. Segurou a garota pelos ombros e disse, olhando na cara dela, como se estivesse brigando — "olhe aqui, minha filha. Há três anos eu quase morri com Covid. Me levaram para o CTI, onde fui entubado, e se não fosse Deus eu teria morrido. Quando me deram alta, eu me lembrei dos medos que já tive na vida e posso te assegurar que nenhum foi tão grande quanto aquele que eu tive da morte. Portanto, faça a peça. Encare esse fantasma para não se arrepender no futuro. Nenhum medo pode ser maior que a coragem de vencer. Hoje, após curado, eu vejo a vida de outra maneira. Daquele dia para cá tudo é fácil e possível para mim. O que significa que eu sou forte do que eu achava que era. Assim como você é e não sabia. Não será um vírus, que matou 8 dos 10 entubados ou uma cena de teatro que vai nos matar. Portanto, minha menina. Vai lá. Entre em cena e arrase!"
— Eu nunca tive tanto orgulho do meu pai como tive naquele dia. Quanto a peça foi um sucesso! Não teve uma sessão que os ingressos não esgotassem.
15 comentários:
Espantosa formas de viver e dar vida! Um Relato que deveria atravessar não só o Brasil , mas ser meta para todos quantos vacilam na hora da verdade.
Um texto que vale ouro.
Parabéns, Rô
Beijo
SOL da Esteva
Olá!
Agradecer sua visita primeiramente e dizer que estou lendo seus textos e que muito me agradam esses momentos de leitura.
Desejar um excelente fim de semana e que a nascente criativa continue a brotar riqueza de escrita.
Um kandando com admiração.
Muitos parabéns.
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Feliz fim de semana.
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Poema: “ Malditas guerras “
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Genial relato. Siempre hay enfrentar los miedos. Te mando un beso.
Que show sua forma de encarar o texto comentando! Bju Sol
Kandando pra v tbem e obrigado. Bju
Brigadu e bfs pra vc. Bju
É isso enfrentar. Bom fds pra vc. Bju
Sucesso merecido!!! É sobre isso.
Muito bem contado aqui. Parabéns. Que tudo seja lindo como deseja.
Uma boa semana.
Um beijo.
Um belo texto, qual relato de vida, que amei ler.
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Abraço/beijinho.
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Poema: Até amanhã meu amor
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Mas num é menino?!Bju
Brigado e Bju outro pra vc.
Valeu! Brigado e bju.
Muita boa a mensagem desse texto.
E ainda bem que correu tudo bem!
Cláudia - eutambemtenhoumblog
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