Bia, minha amiga, pediu-me que a acompanhasse a uma loja de ração ali perto. Não sei o que fosse fazer lá se bicho nenhum, pelo menos que eu soubesse, havia na casa dela e se há, ninguém, nem os pais sabem. Os pais, aliás, dizem que a filha, além de estudar, não faz nada para ajudar. Mas... Vai que os pais mudaram de opinião. O que eu duvido. Se a filha não cuida nem de si, não seria de um gato ou de um cachorro que cuidaria, e pelo que sei da família, sobrará para a mãe. Essa maluca não sai de casa sem estar bem arrumada, mas, para comprar comida de cachorro, não precisava se vestir daquele jeito. Cheguei mesmo a pensar que fôssemos a uma festa e não fazer compra ali mesmo, pertinho. Mas a resposta não demorou. Assim que chegamos, o vendedor, um pardo, magro, alto e um pouco bonito, a quem fizera questão de cumprimentar com beijinhos, nos pediu para entrar. Agora, sim, as peças começam a se encaixar, pensei. Não era comida de bicho o que ela queria, mas ver o rapazinho com quem, certamente já tinha um rolo. Depois de um longo papo furado, o garoto lhe disse, baixinho por cima do ombro, que havia um sujinho, tipo caraca¹, atrás da orelha. Gente, foi o que pude ouvir. A pior coisa que alguém deseja ouvir ele disse na cara de quem se aprontou, como se fora passear na pracinha. Ele não devia ter dito nada nem para ela, nem para ninguém se caraca¹ é sinal de que banho, há muito a pessoa não toma. Beatriz, puta da vida, me arrastou porta afora. — Nunca mais volto aqui, disse espumando de raiva. Parecia um marruá chifrando entre as pernas o toureiro. Que bom que não foi comigo, pensei, pois, se fosse, nunca mais olhava na cara do cara. Quanto a ela, não sei. Quem sabe não cuida melhor do corpo como cuida das caras que anda de olho, principalmente de certas dobrinhas que nós, mulheres, precisamos estar sempre atentas. Quando voltar a casa, pedirei a mamãe para olhar o meu pescoço, as minhas orelhas e outros lugares onde minha vista não vai. ¹Caraca: camada endurecida de sujeira na pele.
11 comentários:
Olá RO!
História curiosa esta que aqui contas. De facto as surpresas acontecem.
De coleira para cachorro, virou conversa fiada com o amiguinho da loja.
Coisas que tens que aprender a lidar, amiga.
Beijinho, e continuação feliz semana.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Me gusto la historia. Te mando un beso.
O 'Vai que' é muito eu.... adorei!!!
Oi! Tudo bem? Obrigado por sua visita lá no meu espaço de histórias. Sobre o texto, caramba, mas que reviravolta! E sempre procuro lavar atrás da orelha pra não correr o risco de passar o que sua amiga passou, hein? Um abraço!
Bom dia, Rô
Tem palavras que magoam, ela ficou muito chateada, obrigada pela visita no meu blog, gostei muito, um forte abraço.
Essas desculpas sempre surgem essa dá coleira foi boa bjs.
Hello!
It's an amazing story. As always, your text is interesting!
Greetings from Poland!
Oi, Rô!
Triste o que houve com sua amiga. A desculpa pra ver o garoto foi boa, confesso. Kkkkk
Abraços!
Que delicioso post
Tão terno🙂
Primeiro, quero agradecer a visita.
Gostei muito de ler seu texto; muito bom! Com relação a atitude dele, foi de fato indelicado.
Bom fim de semana! Bjs
Olá Rô, sou seu mais novo seguidor e espero que essa chave na fechadura do meu perfil, abra todas as portas que você necessitar.
Obrigado por ter passado lá no Humor em Texto e lido o que a Carmem Lucia, andou fazendo e notou que foi bem pior do que uma acidental "caraquinha" atrás da orelha da sua amiga? O ideal realmente é sujeirinha zero, mas lhe confesso que uma boca com aquele cheiro de cebola, misturado com cerveja, também não é nada agradável. E essa um dia eu beijei! Mas confesso que pelo todo o resto, valeu muuuuuuuiiiito (kkk) o sacrifício.
Um abração carioca.
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