— Pronto, já decolamos — disse meu pai se ajeitando ao meu lado — tente dormir, em duas horas estaremos em Salvador — completou.
O passageiro mais próximo era um homem que parecia muito nervoso.
— Essa coisa vai cair — disse olhando para mim. Pensei tudo de ruim. Até se tratar de um suicida querendo explodir o nosso avião. Olhando melhor, conclui que não, que não era, por isso perguntei:
— É a primeira vez?
— O quê?
— Perguntei se é a primeira vez que o senhor tá voando?
— Minha preocupação é que seja a última — respondeu agarrado à poltrona.
Olhei pro meu pai, que já cochilava, e, sorrindo, falei para o homem:
— Fica frio, relaxa! Avião é seguro, mais do que carro ou trem.
— É o que falam, mas na semana passada um já caiu, você viu?
— Não, não vi, mas acidente de automóvel tem toda hora, enquanto avião…
— Eu sei, mas já pensou se o meu decide cair?
— Olha, respira fundo e esquece que está voando. O senhor é casado - perguntei?
— Tá perguntando se alguém vai chorar se eu morrer?
– Por favor, não vamos exagerar! Ouça só: sentir medo é normal, mas é como eu disse, não se deixe dominar por ele. Feche os olhos e relaxe.
— Fechar os olhos? Só falta me pedir para dormir.
— Fechar os olhos? Só falta me pedir para dormir.
— A ideia não é má — respondi.
— Você sabia que a pessoa dormindo sofre mais o impacto?
— Não entendi!
— Quando a pessoa está dormindo, os músculos estão relaxados. Dormindo, a dor é maior. O cérebro guarda informações.
— Mas se o senhor está dormindo, não vai sentir nada.
— Mesmo dormindo, a cabeça continua ativa. Por isso a pessoa sofre.
— Aonde o senhor leu essa coisa?
— Não lembro, mas acho que foi um especialista em traumo no Google. Tá sentindo? Olha como ele balança.
— Ah, moço, isso é turbulência!
— Será, olha! Vi um vídeo em que um especialista dizia que, quando o avião balança assim, desse jeito, ele cai.
— “Desse um jeito”? Mas, de que jeito e o especialista é especialista em quê?
Depois de uma hora ouvindo essas coisas, o avião pousou sem problemas. O “doidinho” levantou, pegou suas coisas e já ia saindo quando falou:
— É, escapamos! Infelizmente a viagem pra você continua.
— Naquele momento, pela primeira vez, ele sorriu.
Assim que levantamos voo, olhei para um tranquilo senhor, que acabara de sentar no lugar do doidinho, ao meu lado. Percebendo que eu não estava lá muito bem, perguntou:
— Está tudo bem, minha filha?
Engoli seco e respondi:
— Não sei não, moço. Mas se continuar desse jeito, essa coisa acaba caindo.
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