12 junho 2025

UNS COM TANTO. OUTROS SEM NADA.

 



           A diarista não apareceu esta semana e, como não atende as ligações, decidi ir à sua casa.
— “Oi, tudo bem. O que houve que você não apareceu mais?” — perguntei.
— “É o meu namorado que terminou comigo, só isso” — falou em tom baixo, próximo ao meu ouvido.
— “Qual foi o motivo que o levou a terminar?” — repeti no mesmo tom de voz.
— “Descobriu que o traía com outro homem.”
— “E por que está falando baixo se estamos sozinhas?” — perguntei com o queixo no ombro dela.
— “É que meu marido está em casa. Já pensou se ele escuta?”
Que vontade de gritar, de xingar, de voltar correndo para casa naquela hora. Já pensou se o marido descobre? E se ele a matasse na minha frente? Com que cara vou à delegacia se a polícia me obrigar a depor?
Nem mesmo o café que me foi oferecido eu tomei. Disse que estava com pressa, dei tchau e fui, vazei.
— “E então, minha filha. Como foi lá, com diarista?” — mamãe perguntou.
— “Sei lá, mamãe. Acho que brigou com o marido ou ele brigou com ela… sei lá.”
— “De vez em quando ela some” — disse, recolhendo as migalhas de cima da mesa. — “Se o serviço dela não fosse bem feito, eu a teria trocado faz tempo. Por aqui está cheio de gente pedindo para trabalhar”.
Mamãe foi resmungando para a cozinha e eu para o quarto pensando na besteira que fiz.

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TEM RAZÃO.