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07 fevereiro 2025

MEU TIO, MINHA AVÓ E MEU PAI.

 




       Meu peito dói quando vejo uma pessoa chorando. Se for muito íntima, acabo chorando também. Ontem chorei porque vovó chorava quando fui a sua casa.
— “Casa de ferreiro espeto de pau”, disse relembrando a morte do filho. Um cara que socorreu um vizinho que estava enfartando. Graças as massagens e ao que ele falava o vizinho vai bem obrigado! Já meu tio não teve a mesma sorte. Se tivesse aplicado em si o conhecimento que o levou a salvar pessoas, como disse meu pai, eu não estaria escrevendo este texto. Afinal, o que fazer quando sentimos uma forte dor no peito e a dor continua no braço até a mandíbula? Talvez meu tio estivesse vivo se conversasse mais vezes com meu pai ao invés de ficar criticando o cunhado. Com certeza meu pai lhe teria dito que tossindo vigorosamente repetidas vezes, respirando profundamente antes de cada tosse, profunda e prolongada, como se tivesse puxando um escarro das profundezas do tórax. Respirasse e tossisse a cada dois segundos, sem parar, teria tempo de ser socorrido. Fazendo esse processo muitas vezes o coração volta a bater normalmente. Infelizmente não ouviu porque falar mal do time do meu pai era mais importante. Emeu pai chorou a morte de quem falava mal dele pelas costas e muitas vezes, quando bebia, também pela frente. “Casa de Ferreiro, esperto de pau”. Vovó enxugava os olhos comigo deitada em seu colo. — Vovó, a bondade e a sabedoria têm nome e sobrenome. A senhora sabia? — Perguntei — o primeiro nome é o seu. O outro é o do meu pai. — Ela riu, aquele riso triste que só a avó da gente tem.
Dormi lá naquele dia.

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MEU TIO, MINHA AVÓ E MEU PAI.