COMO SE CHAMA ( II )

 

       

     Gente, vocês “não tão entendendo”. Me meti numa enrascada quando fui a casa da minha avó que só vendo. Não me refiro ao desprazer de encontrar Lili Tira e Limpa fazendo fuxico de mim e muito menos de ver minha vó dando cafezinho com bolo pra ela. O que me deixou irritada foi ter batido com a porta que, por sua vez, derrubou o vaso onde vovô guardava as cinzas do pai dele.  Eu não sabia que um vaso daquele tamanho fizesse o barulho que fez. Tenho certeza que vovó escutou. Não falou nada porque me conhece. Quando estou nesse estado, bato mesmo, mas quebrar, quebro nada e só ela e mamãe sabem disso. Estou dizendo zangada, se é que alguém me entende, porque, zangada, eu estava e muito. Só não falo o quanto porque sou educada. Fico fula da vida quando alguém duvida de mim, principalmente quem vive me dando razão. Não me falem que a galinha da escola mexeu um pouco com ela porque não mexeu. Duvido que alguém tão inteligente quanto ela deixe de acreditar na neta para dar asas a uma galinha. Não a galinha que se come em dia de festa no almoço, mas a outra, a comível em qualquer dia e lugar. Pois bem! Quebrei o vaso com as cinzas do velho e não disse nada. Saí e nem me despedi porque estava zangada. Nem com mamãe quero falar, mas com meu pai, quem sabe eu não fale. Papai é daqueles que fala após pensar no assunto e não o contrário. Mamãe diz que ele tem a cabeça em cima do coração e das palavras e é com isso que conto nesse momento. Se não falar com alguém nem dormir, tentarei. Gente, se conheço direito meu pai já sei o que vai dizer quando eu lhe contar:
— “Queime umas coisas lá fora, junte as cinzas e bota num prato fundo. Diz que vai comprar vaso novo porque aquele estava cheirando mal”.

Só você mesmo, papai, pra me fazer rir nessas horas e nem precisa dizer nada, basta pensar porque se eu falar qualquer coisa pensarão que estou ficando maluca.