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terça-feira, agosto 20, 2024

SÓ O AMOR EXPLICA.

 


    Um casal, muito estranho, escolheu morar perto da gente. O apartamento é o primeiro à direita do nosso. A mulher é magrinha, bonitinha e muito falante. Já o marido é grandão e só vive de cara fechada. Ela fala com todo mundo, já ele, nem bom dia dá para ninguém e como funcionário de multinacional, passa a maioria do tempo na empresa, trabalhando. Sai de casa toda segunda-feira e só voltar na quinta, ficando, portanto, mais tempo trabalhando do que em casa com a mulher. Quando está em casa o silêncio é total. A paz, como diz minha mãe, é vizinha da gente. Ninguém levanta a voz quando fala e se ri, ri baixo para não incomodar. Seriam ótimos vizinhos, não fosse a esposa resmungar quando se acha sozinha. Nessas horas é quando ela chora e até já ouvi uns gritinhos com a mão na boca para a gente não escutar. Deve ser por saudade do seu amor. Enquanto ela se descabela em casa, ele trabalha pensando nela. Basta um mensageiro chegar com flores ou algo que ele tenha mandado para deixá-la assim, chorosa. Pior é que o “Japa” não fica um dia sem mandar nenhuma coisa para ela. É só a campainha tocar que ela corre para atender. Troca algumas palavras, que não dá para ouvir, e volta para a cama para resmungar, choramingar, chupar o ar pela boca como se o dente estivesse a doer. Tem vez que o mensageiro, pela voz, que nunca é o mesmo, vem três e até quatro vezes já veio entregar “flores” a ela. Eu não os vejo, mas escuto a porta abrir, os dois conversarem e ela entrar para chorar, mais uma vez. Como não são vistos de mãos dadas ou conversando um com o outro, ninguém acredita serem tão felizes como eu acredito. Até porque o meu quarto é colado ao quarto do casal. Com ele em casa o silêncio é total, mas sem ele é quando ela sofre.
É como diz minha avó, quem vê cara, não vê coração.

2 comentários:

She disse...

Oie, minha querida. Pergunta se eu ri com seu texto?
Claaaaaaaro! Muito bom, consegui visualizar a cena direitinho e pensei em mil coisas, mas deixa quieto. kkkk
Beijinhos mil com carinho!

Jotabê disse...

Existem famílias invisíveis assim. Perto de me casar separei um convite para levar para uma das irmãs de meu pai a quem não via há anos. Meu pai se espantou por eu querer convidá-la, mas indicou o endereço e explicou: “é o apartamento escuro”. Quando cheguei, percebi o significado de “escuro”. Minha tia morava com o marido e as filhas gêmeas em um apartamento onde as janelas nunca eram mantidas abertas. A família vivia na penumbra.

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