SONHO OU FANTASIA?

 

      Estava num sono tão gostoso quando me chamaram do lado de fora do quarto. — São 8h, você não disse

que ia

sair

?,

disse alguém com a voz da minha mãe. Eu disse que já ia, mas não levantei. Fiquei pensando na minha vida futura, tipo, o que sonhei essa noite que eu já não me lembrava? Fiz um esforço e consegui. O sonho era próprio de alguém da minha idade, mas aceito se falarem sem noção. Vou tentar descrevê-lo e como se trata de sonho, ninguém haverá de me contradizer. Sonhei que eu não era eu, era outra pessoa, talvez uma miragem, tipo fantasma, ou, quem sabe, um viciado viajando na maresia? Era como se uma voz sussurrasse isso aos meus ouvidos: “São 10h, levante e vá descalça para a cozinha. Não se preocupe com os chinelos embaixo da cama. (Cama que no passado outro alguém tinha dormido) Olha o relógio na parede junto à porta, mas não repare na hora, pois é feriado, dia de descansar. (Eu me lembro de ouvir essas palavras). Esquente as mãos na xícara de café e veja, com esses olhos, cor da mata, a mesinha de centro, as cadeiras, o tapete, com desenhos sem noção, e a porta fechada. Ponha na boca essa xícara, já que não tem o beijo, e entre esse momento presente e o momento passado, olhe sentado ao seu lado se degusta o sabor do futuro”.

Para minha mãe ou meus amigos, jamais eu falaria sobre o sonho, exceto se fosse um psiquiatra ou psicoterapeuta, sei lá. Mas diria com uma condição:

“

que ele pensasse o que pensasse, mas, por favor, não me internasse porque isso é só o começo. Outros ainda haverão de surgir, como sonhos ou não

"

.