CARTA PARA O PAPAI

 

     Minha mãe é muito estressada e o pior é que estressa todos ao lado dela. Um dia desses deram a ela uma carta endereçada ao meu pai. Se eu fosse ela não falava nada naquele momento. Esperava meu pai chegar do trabalho, tomar banho e só depois da janta eu tocaria no assunto. Mas ela não. Minha mãe preferiu ligar e falar que o estavam processando. — Pelo menos era o que dizia na carta, meu pai ouviu minha mãe dizer. Meu pai, coitado, não sei como não teve um troço naquele momento. O pobrezinho voltou para casa e como já devem ter percebido, ninguém dormiu ali em casa, naquela noite. Antes do amanhecer, papai já estava de pé, pronto para ir ao Fórum tratar do assunto desconhecido por ele. Mas, graças a Deus, deram a ele a atenção que ele merce. Há 19 anos compramos um fogão com defeito, por isso papai reclamou muitas vezes e como não obtinha resposta, papai os colocou na justiça. Só assim conseguimos que fosse trocado por um que pelo menos funcionasse como era de se esperar. Com a interferência da justiça o fogão foi trocado e os danos morais, pagos. Acontece que me pai recebeu um valor menor do que fora depositado pela empresa, por isso a ré precisou entrar na justiça através de um novo processo para rever tais resíduos. — Isso é comum entre as partes, disse o advogado tranquilizando o meu pai. — O senhor não precisa se preocupar que o caso está sendo encerrado, concluiu. Meu pai ficou muito feliz, tão feliz com aquilo que ouviu que até uma caixa de bombom, daqueles que eu amo, papai trouxe para mim. Para minha mãe, papai comprou flores. Flores frescas e muito bonitas. Mamãe, claro, chorou assim que o viu. Ela não chorou pelas flores que recebeu nem pelos bombons que ele me deu, mas por presenciar aquela atitude, tão digna e bonita. Atitude de quem cala quando nada tem a dizer e recompensa com bombons e flores aqueles que também sofreram com o seu sofrimento. — Ele parecia uma criança, disse mamãe com as flores junto ao peito.