ABRA A RODA

 

Eu não queria falar sobre isso, mas, para não dormir com esse nó na garganta eu vou escrever. Escrever pode, falar é que não. É sobre a moradora da rua da praia. Uma senhora assanhada que sempre tem assunto para conversar com meu pai. O marido não liga e minha mãe muito menos. Talvez por confiar no marido minha mãe ri quando eu falo. Já o meu pai, coitado, pelo que vejo, nem da minha mãe deu encima. Foi ela quem se insinuou, ou eu não teria nascido. Quanto a nossa vizinha eu tenho um recado para ela: olha aqui, minha senhora, vai tirando o pangaré da chuva porque meu pai não é pro seu bico. E o marido dela, o que acha disso? O bobão não está nem aí para quem, praticamente, levanta a saia quando um homem olha para ela. Meu pai não olha, disso eu tenho certeza. Essa pessoa me lembra o pavão. Aquele pássaro grandão que vive abrindo o rabo para vê se o macho dá por sua presença. Desculpa gente, mas não dá para ficar calada. Se minha mãe não fala, falo eu e se o marido da vagaba não se importa o problema é dele. Eu acho que meu tio, irmão da minha mãe, já passou ela na cara. Eu não tenho certeza, mas como ele estava sempre por lá... Eu só não vou perguntar porque não gosto de fofoca, mas se alguém souber alguma coisa, por favor, carta para a redação.

Pronto, falei. Quer dizer, escrevi.