NOVA VIDA

 

   Eu queria muito falar de um amigo que há algum tempo vinha dando cabo da vida. Da sua, da família e da minha que sou sua amiga. Pois, bem! Este jovem, que tem a minha idade, foi com quem dividi os carinhos que recebi dos meus pais e a esperança de vê-lo formado naquilo que sonhava, mas infelizmente não conseguiu, pelo menos naqueles anos horríveis que o vi de joelhos aos pés das drogas. Cansado com o que vinha sofrendo e a distância daqueles que se diziam amigos, decidiu, e só Deus sabe como, parar com aquilo. Aconselhado pelos pais Internou-se em uma clínica onde fantasma nenhum lhe enchesse a cabeça com falsas promessas. E conseguiu. Pelo menos até o avião, que o trouxe de São Paulo, pousar em solo do Rio, onde o pai, ansioso, esperava por ele. Mas, como nem tudo são flores, não foi o que aconteceu. Ao invés de correr para os braços do pai preferiu a favela onde passou a noite fazendo, de novo, o que não devia. No dia seguinte, vendo a tolice que fizera, voltou para a casa. Evidentemente que o pai o perdoou ao ouvi-lo falar a verdade. Aquele, com a graça de Deus, seria o último ato protagonizado por ele. Hoje está limpo. Voltou aos estudos, formou-se naquilo que desejava, arranjou um trabalho a altura e vive tão feliz quanto me sinto contando o que, pessoalmente, me permitiu que contasse. Foi com afinco e determinação que lutou e venceu a luta da sua vida. Daqueles amigos, dos quais com orgulho me incluo, restaram poucos, ou quase nenhum, além dos pais e uma ou duas pessoas que, na hora que o bicho pegou ao invés de fugirem, o ajudaram. Era a mão que precisava. Droga nunca mais, dizia com os olhos molhados. Foi anos vivendo num mundo de trevas, mas hoje, tantos anos mais tarde, o vemos forte, bonito e não mais aquele magrelo de roupa suja, cabelo grande e barbudo que era. Você venceu meu amigo! Adeus à abstinência e as armadilhas da droga, grita com um sorriso na cara inteira, enquanto dou graças a Deus por vê-lo colocando placas de perigo, pelos caminhos por onde passou.