4 de nov. de 2025

A PNEUMONIA DA VOVÓ

 



    Fomos ao hospital buscar minha avó, que, graças a Deus, ficou boa da pneumonia. Assim que chegamos, um médico, ainda sem o jaleco, passaria por nós se um senhor muito nervoso não corresse para ele apontando o relógio. — “O senhor não se envergonha de chegar a essa hora, doutor? Sabia que posso processá-lo se meu filho morrer?” — disse, muito irritado. O médico parou e muito educadamente respondeu: — “Desculpe, senhor, mas assim que me ligaram eu corri para cá”. Deu dois tapinhas no braço do homem e, antes de atravessar a porta que conduzia ao corredor da sala de cirurgia, afirmou: — “Fique tranquilo, tudo vai correr bem”.
Mas o homem não se conformava. Reclamava da liberdade que tinham os médicos. Meia hora mais tarde, aparece a enfermeira sorrindo, mas antes de falar qualquer coisa, o homem pergunta: — “E então, como está o meu filho?” — “Ele está bem” — ela responde — “semana que vem ele já volta para casa!” — “Pois é”, disse o homem, “se os médicos fossem mais responsáveis, ele já tinha ido embora. Por que será que esses caras chegam atrasados?” — “Ele não estava atrasado, senhor! Só chegou agora porque estava no velório do filho que, por infelicidade, faleceu num acidente de carro. Agora que terminou a cirurgia, ele volta para o enterro, entendeu?”
Ninguém disse nada até minha avó, acompanhada de uma enfermeira, muito simpática, começar a falar. Compreendi, naquele momento, que nem sempre a dor de um é maior que a do outro.

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