DIA DO MEU PAI

 

   Todos os dias abraço e beijo meus pais. Não preciso de data comemorativa nenhuma para demonstrar o que sinto por eles. É como se em nossa casa fossemos movidos a abraços e beijos. Fora o “eu te amo” que infelizmente o tempo vem tornando vulgar, estou sempre agarrada ao pescoço desse “senhor” e o faço de coração e não fazer por fazer.

(Hoje é o dia dos pais e é do meu que quero falar). 

Do que adianta um abraço e um beijo duas vezes por ano se o resto do tempo ninguém se lembra de quem ele foi ou continua a ser? Bacana, de verdade, é não dizer nada. É sentar no tapete e olhar para cima, sem dizer nada, deixar o silêncio gritar o que sentimos aqui, dentro do peito, tal qual os animais que temos em nossa casa. Nessas horas é quando o silêncio ensurdece. Silêncio que grita, esperneia, faz coisas que palavras não conseguem dizer. Na minha casa, o gato e o cachorro agem assim. Quando não é se esfregando na gente e a bola que leva na boca para nos mostrar. E ninguém fala nada, só eu, quando não estou rindo. O amor é isso.
O que importa se o chão está frio se ele senta o traseiro assim mesmo para olhar para a gente? Parece que fala: que grita o mais sincero “eu te amo. Eu amo você”.

Dizer por dizer não justifica a indiferença de outros momentos. Na casa da gente sempre tem quem lamba a cara do outro ou esfregue o rabo na perna de alguém. Se eu tiver, algum dia, de chorar por meu pai, não será por falta de amor. Muito menos por falta daquele olhar, da boca segurando a bola e dos ruídos que deixa de fazer quando acha que já estou dormindo.
Pai, eu te amo. Não pelo hoje, mas por ser pai, como todos são, mesmo que alguns filhos não deem a eles o que sei que merecem. Parabéns.