PAPO DE BOTEQUIM

 

Eu gosto de uma boa conversa e até de sexo eu falo, se for necessário. Hoje cedo minha mãe disse ter ouvido a Cassinha falar que vai se casar. Na hora eu fiquei, tipo, sei lá, confusa ou amedrontada, não sei bem o que foi que senti, mas fiquei preocupada. Muito preocupada. Cassinha é amiga dos meus pais, pessoa de quem eu gosto bastante. Não se trata de uma pessoa qualquer, até porque, Cassinha é evangélica, daquelas que só transam após se casarem. Nada de mais, diriam vocês, mas é que vocês não sabem o que rola dentro de quatro paredes. Nem eu mesma sei, além do que me contam, claro. Tipo, uma conversa que ouvi, por acaso, entre duas professoras da minha escola.

Uma falou que o marido só transava se ela bater nele. E ela fazia o que ele mandava, batia no pobrezinho sem dó e nem piedade. Não que fosse sua vontade, mas por ele implorar que ela batesse. Só apanhando o marido conseguia gozar.

— No início eu tinha pena, mas com o passar dos anos, cobri-lo de porrada era o melhor que eu sabia fazer trancada no quarto com ele. Hoje, quando me pede, eu meto-lhe a mão nas fuças numa boa.

Tem vez que o deixo prostrado, coitado. Mas eu sei que o deixo feliz e eu fico feliz com ele naquele estado.  E olha que a minha mão é pesada. Quanto mais ele pede, mais o cubro de porrada, e não é tapinha que mãe dá em filho, não. Eu bato com vontade — falou baixinho, tão baixo que de onde eu estava, quase não deu para ouvir. Quando a valentona dizia que o marido saía agasalhado para ninguém ver o estrago causado por ela, a garrafinha que eu enchia de água transbordou. O barulho da água no inox acabou com conversa das duas. Fechei a torneira do bebedouro e sem dizer nada, meti o pé, fui embora. Sai antes que me dessem um esporro e me mandassem vazar.

É disso que eu tenho medo. De ouvir alguém dizendo que vai se casar. Nessas horas eu me lembro das professoras.

Portanto, Cassinha, case! Case, mas, por favor, não se matem quando forem transar.